Diante do alerta de casos de dengue, zika e chicungunha em Pernambuco, o município de Salgueiro, no Sertão do Estado, com cerca de 60 mil habitantes na área urbana e rural, vem implementando uma série de ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão das doenças. O trabalho realizado envolve várias instituições, a exemplo da Secretaria de Saúde e de Serviços Públicos do município e o Campus Salgueiro do Instituto Federal (IF). Uma das atividades mais antigas, que já acontece há cerca de dez anos, tem ganhado reforço: é a reutilização de pneus velhos descartados por borracheiros.
Antes, esses pneus eram jogados em terrenos baldios, acostamentos de rodovias e no aterro sanitário da cidade, sem que houvesse fiscalização adequada. A ação conduzida pela Diretoria de Saneamento Ambiental começa a mudar esse cenário com várias frentes de trabalho. Um dos objetivos é evitar que estes materiais acumulem água e possam servir de criadouros do mosquito e, ao mesmo tempo, evitar danos ambientais na área urbana.
Ano passado, a prefeitura firmou parceria com a Reciclanip, uma entidade sem fins lucrativos que atua no acompanhamento do ciclo sustentável do pneu em todas as regiões do País. A meta da entidade é consolidar o programa nacional de coleta e destinação de pneus inservíveis, atividade prevista na resolução nº 416/2009 do Conselho Nacional de Meio Ambiente, que orienta as empresas fabricantes ou importadoras a dar o fim correto ao produto usado.
Salgueiro recolheu cerca de 120 toneladas do material que estavam no aterro desde o ano passado. Uma parte foi transportada através de caminhões para um projeto de reaproveitamento em João Pessoa (PB), outra, para o Estado de Goiás, no Centro-Oeste. De acordo com o diretor de Saneamento Ambiental, Esmael Nicolau da Cruz, a ação elimina o risco de contaminação do solo. “Por outro lado, estamos também evitando o surgimento de focos do mosquito causador da dengue e que as pessoas contraiam leptospirose”, explica Esmael.
Outra frente de trabalho da diretoria é a campanha de conscientização junto aos borracheiros. Até o final do ano, o órgão pretende consolidar infraestrutura adequada para guardar os aros inservíveis, de forma que sejam protegidos e cobertos sem contato com água. Como no aterro não entram pessoas sem autorização, os trabalhadores que quiserem fazer a dispensa podem entrar em contato com o órgão municipal pelo telefone (87) 3871-7080.
PALESTRAS
Na semana passada, o Campus Salgueiro do IF, em parceria com a Secretaria de Saúde, promoveu uma série de palestras no auditório da unidade de ensino para atualizar educadores, alunos e funcionários da instituição sobre o quadro atual do Aedes aegypti e as formas de prevenção. Natural de Cabrobó, a estudante do curso de Tecnologias em Alimentos Andressa Mireli, 21 anos, participou do encontro e disse que aprendeu bastante sobre as formas de prevenção, já que não tinha muita noção sobre a doença. “Não imaginava que há condições de acumular água nas bandejas de água das geladeiras e nos ralos de pias. Foi um alerta para olhar mais os espaços dentro da minha casa. Todas as informações são importantes, não só para sensibilizar o estudante, mas também os professores. Assim, podemos compartilhar com outras pessoas”, argumentou Andressa.
Durante a palestra, a diretora da Atenção Básica, Vânia Araújo, e o agente de controle de endemias da Secretaria de Saúde, José Alves do Nascimento, apresentaram slides e mostraram dados sobre a proliferação e ações de combate ao mosquito. De acordo com Vânia, as ações de enfrentamento são simples, mas precisam do engajamento de toda comunidade. “Há anos lutamos contra o Aedes e, no entanto, ainda estamos aqui. Muita gente não se preocupava com a prevenção porque era só a dengue, e a população passou a banalizar, mas não é assim. Os números de casos de dengue são os que têm mais riscos de subir, junto com a chicungunha e a zika” observou.
A diretora de ensino do IF, Adriana Bispo, que está no 4º mês de gravidez, está em alerta devido à associação que vem sendo feita entre a zika e a microcefalia. “Estou vivendo esse pânico com relação ao mosquito, mas tomo banho de repelente todos os dias. Só com a união de todos e o trabalho dentro da nossa casa é que vamos mudar essa realidade”, comenta a educadora.
Em outra ação na área urbana, um grupo de militares e de agentes de controle de endemias está entregando panfletos e conversando com a população sobre a importância de não manter criadouros do mosquito em suas casas. Em algumas situações, são aplicados larvicidas em depósitos de água nas residências, como caixas d’água.