Ossos de animais pré-históricos da megafauna foram encontrados numa obra pública em Alagoinha, no Agreste pernambucano. Porém, moradores da região recolheram e levaram para casa grande parte do tesouro paleontológico.
Os fósseis apareceram quando a prefeitura começou a escavar uma antiga lagoa, na área rural, para ajudar no abastecimento d’água da população. De acordo com o secretário municipal de Cultura, Francisco Valdir Dimas de Carvalho, a obra começou há três semanas e está suspensa.
“Infelizmente, as pessoas não sabem da importância de um fóssil. Ficando com esse material, elas podem até responder por crime, no futuro. Estamos tentando localizar os moradores para recuperar os ossos”, afirma o secretário.
Além das ossadas, diz ele, havia dentes de animais na área da lagoa, que tem cerca de 200 metros quadrados. “Estamos aguardando a visita do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), para resolver como faremos a partir de agora”, declara.
O Iphan foi acionado pela arqueóloga e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco Ana Nascimento, que ficou sabendo do caso. Ela enviou ofício ao instituto e à Prefeitura de Alagoinha pedindo providências para salvar o sítio paleontológico.
Em resposta ao ofício, o Iphan disse que o assunto é de responsabilidade do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Até o fim da tarde de segunda-feira (16), o DNPM desconhecia o problema.
Professora do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco, Alcina Barreto, esclarece que o DNPM fornece autorização para pesquisas em sítios de animais pré-históricos, mas o Iphan é o responsável pela preservação do patrimônio fóssil.
Os vestígios resgatados em Alagoinha pertencem a mamíferos do pleistoceno, observa Alcina Barreto. “São animais que pesam mais de uma tonelada”, diz a pesquisadora.
“É um achado de relevância científica grande. Com esse material podemos identificar como era a vegetação e o clima da região há 50 mil anos. Certamente eram bem diferentes”, destaca.
O estudo das ossadas contribui para se descobrir as causas mais marcantes da extinção da megafauna, acrescenta. E pela comparação com outros ossos e dentes, é possível dizer quem eram os animais, dando nome aos bichos, ressalta.