Nos morros de Recife e Olinda, dor e desespero

Cerca de cinco quilômetros separam a dor de duas famílias que perderam parentes ontem por causa de deslizamento de barreiras no Recife e em Olinda. Foram quatro mortos, sendo duas crianças. Na capital pernambucana, Ketilly Bianca Santos da Costa, 4 anos, ficou soterrada após sua casa ter sido totalmente destruída no bairro de Passarinho, Zona Norte. Próximo dali, em Águas Compridas, Olinda, morreram Alexsandra Xavier Morais, 36, o filho dela, João Victor Morais, 7, e a sobrinha Bárbara Patrício Morais da Silva, 23. Outras quatro pessoas ficaram feridas no mesmo acidente. As duas mulheres mortas deixaram, cada uma, duas crianças órfãs.

A maior revolta da família de Ketilly é porque o acidente poderia ter sido evitado. “O vizinho da parte de cima da casa do meu irmão começou a fazer uma obra irregular. Pediram para ele não continuar pois poderia provocar a queda da barreira. Infelizmente isso aconteceu. A irresponsabilidade de uma homem matou uma pessoa inocente”, comentou Wilson Costa, tio de Ketilly. O responsável pela construção não foi encontrado ontem.

Vizinhos contam que os pais da garota, Flávia e Rivaldo Costa, ficaram desesperados após o deslizamento. “A mãe gritou muito, chorando, pedindo ajuda e chamando pela filha. Muitos homens, inclusive meu marido, foram ajudar. Chovia muito na hora. Cavaram bastante para tirar a lama. Só que não deu tempo de encontrar a menina com vida”, lamentou a auxiliar de cozinha Liliane Souza, 30, vizinha da família. “Estamos arrasados. Perdemos nossa única filha”, afirmou Rivaldo, pai de Ketilly. Ele e a esposa estavam acordados quando ouviram o barulho da barreira caindo, por volta das 4h. Não deu tempo de pegar a menina que dormia no quarto.

A gerente geral de Engenharia da Defesa Civil do Recife, Elaine Holanda, vistoriou o local do acidente e confirmou que a obra irregular desestabilizou a barreira. “Cavaram a crista do talude (a parte mais alta do morro), o que pode ter provocado o deslizamento”, destacou Elaine. A prefeitura interditou três imóveis no entorno pois há risco de novos desabamentos.

Em Águas Compridas, a barreira que caiu, por volta das 6h, destruiu duas casas e deixou uma avariada, com rachaduras nas paredes e telhas quebradas. A força do barro era tanta que o corpo de Bárbara foi arremessado para o lado contrário da rua. Um poste foi arrancado. A Ladeira do Giz passou todo o dia interditada por causa dos escombros. A tragédia poderia ter sido maior se os dois filhos de Bárbara, dois meninos de 3 e 6 anos, estivessem em casa. “Graças a Deus eles fora para a casa da avó paterna desde o fim de semana”, contou Roberto Melo, tio dela.

Duas filhas de Alexsandra, com 10 e 14 anos de idade, sobreviveram porque vizinhos as resgataram. O mesmo aconteceu com os companheiros dela e de Bárbara. As meninas tiveram ferimentos leves no rosto e estão na casa do tio. O companheiro de Alexsandra estava em observação, até o fim da tarde de ontem, na UPA de Nova Descoberta. A reportagem não obteve informação sobre o paradeiro do marido de Bárbara. A prefeitura de Olinda informou que o local do acidente é área de risco e monitorado.