Em todo o País, aproximadamente 8,324 milhões de brasileiros consideram que as condições de trabalho que encontraram no emprego atual estão aquém do que foi prometido por seus empregadores no ato de recrutamento. Os dados foram levantados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Aspectos das Relações de Trabalho e Sindicalização 2015, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que busca medir o alcance do trabalho decente no País, conforme as orientações da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Pela primeira vez, o IBGE mediu o grau de satisfação dos empregados sobre as condições de trabalho efetivamente encontradas em relação às que foram previamente acordadas. Entre os 51,7 milhões de trabalhadores ocupados no setor privado ou no trabalho doméstico, 16,1% declaram estar insatisfeitos ou pouco satisfeitos com as condições de trabalho em relação ao que foi prometido quando aceitaram o emprego.
"O ideal seria que fosse 100% de satisfeitos, porque é uma avaliação sobre o que eu combinei que você faria no trabalho e o que você encontrou de fato", explicou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. "A agenda de trabalho decente é que você tenha trabalho decente para todos. Não existe brecha de tolerância ou mínimo aceitável. É igual ao trabalho escravo: não existe mínimo tolerável. Ah, mas o trabalho infantil está baixo... Não, não pode ter trabalho infantil, tem que ser zero", defendeu Azeredo.
Um total de 6,2% dos trabalhadores ocupados disseram que a jornada de trabalho era na maioria das vezes superior ao que foi acordado previamente com o patrão, enquanto que 4,3% ainda disseram receber rendimentos abaixo do que tinham combinado anteriormente.
Apenas 76,9% dos empregados declararam-se satisfeitos ou muito satisfeitos, enquanto que 7% estavam indiferentes.
"Não temos a causa da insatisfação, mas temos um viés dessa satisfação. Os homens estão mais satisfeitos do que as mulheres, os brancos estão mais satisfeitos do que os pretos e pardos, os mais escolarizados estão mais satisfeitos que os menos escolarizados, os mais velhos estão mais satisfeitos", enumerou Azeredo.
Entre os trabalhadores com nível superior completo, o grau de satisfação com as condições de trabalho encontradas em relação ao previamente acordado alcançou 83,5%. Entre os trabalhadores sem instrução, 70,1% disseram-se satisfeitos.
Na classificação por cor ou raça, 79,8% dos brancos declararam-se satisfeitos, contra 74,4% dos pretos e pardos. Na faixa etária mais elevada, com 50 anos ou mais de idade, 79,6% mostraram-se satisfeitos, ante 75,0% entre os jovens de 16 e 17 anos. Entre os homens, 77,3% estavam satisfeitos, ante uma fatia de 76,4% das mulheres.
"É uma satisfação que pode ter ligação com a remuneração", contou Azeredo.
A renda, a jornada de trabalho e a formalização do vínculo empregatício também foram determinantes entre os trabalhadores que se declararam satisfeitos ou muito satisfeitos com as condições do emprego que ocupavam em relação ao que fora prometido. Na faixa que recebia mais de cinco salários mínimos, 90,0% estavam satisfeitos, enquanto que essa fatia caía a 60,5% entre os que ganhavam até um quarto de salário.
Os trabalhadores que tinham jornada regular de trabalho também tinham a maior fatia de satisfeitos, 78,4%, mesmo fenômeno percebido pelos que tinham como vínculo empregatício a carteira de trabalho assinada, com 79,4% de satisfeitos. Entre os que trabalhavam sem carteira assinada, o porcentual de satisfeitos caiu para 70,0%.
"A maioria da população não está nessa faixa de renda acima de cinco salários mínimos, mas sim numa faixa mais baixa. Quem tem carteira assinada tem mais satisfação do que quem não tem carteira. A maioria da população não tem nível superior, não ganha mais de cinco salários mínimos, é preta ou parda", disse Azeredo.
O levantamento, feito em parceria com o Ministério do Trabalho e com a OIT, incluiu informações de aproximadamente 25 mil pessoas em todo o território brasileiro na semana de referência da Pnad, a última semana de setembro de 2015.