Há dois anos, a labradora Mel enfrentou um câncer na pata dianteira direita. O tumor foi retirado em um procedimento cirúrgico e o problema parecia superado de uma vez por todas. Mas a história não foi bem assim. Em dezembro do ano passado, veio a notícia: o câncer não só havia retornado, como era inoperável. A solução seria a amputação. O que ninguém imaginava é que, dois meses depois, Mel, aos três anos de idade, entraria para a história da medicina veterinária brasileira como a primeira cachorra a ter uma prótese fixa implantada em um dos membros.
“Quando recebemos o diagnóstico, a oncologista indicou um ortopedista de Olinda que já tinha realizado esse procedimento antes”, conta Iris Barbosa, de 26 anos, dona de Mel. O profissional que mudou a vida da cachorrinha é o veterinário Alan Gleison Cabral, da clínica Ortovet. Há pouco mais de um ano, ele obteve sucesso em um procedimento idêntico realizado na pata traseira de um gato.
“Estava assistindo a um documentário que mostrava esse tipo de implante, colocado pela primeira vez há oito anos na Europa”, conta. O interesse no assunto, inédito no Brasil, resultou em mais de um ano de pesquisa. As duas cirurgias realizadas desde então foram um sucesso.
O procedimento é semelhante a um implante dentário. Uma parte da prótese de titânio é introduzida no canal medular, orifício existente no interior dos ossos. Nela, fica acoplada outra parte móvel emborrachada, que simula uma pata. Através de um fenômeno chamado osteointegração, metal e osso se unem de maneira estável e funcional, permitindo que o animal retone à rotina normal com alguns cuidados.
“As pessoas nem percebem que ela usa prótese, porque faz tudo normalmente. Ela tem algumas limitações, como não poder correr, mas vive uma vida normal”, afirma Iris. Para o especialista, muito mais do que devolver a qualidade de vida ao animal, o novo método previne uma série de doenças decorrentes da amputação. “Um animal que tem a pata amputada pode ter complicações, como a sobrecarga dos outros membros, problemas de coluna e sobrepeso, devido à redução da atividade. Isso pode causar diabetes, entre outras doenças”, explica.
A técnica possibilita um prognóstico mais animador. Segundo o especialista, na maioria das vezes o animal não precisa ter amputação total do membro. “Normalmente, se faz esta opção para que ele não use o coto para se apoiar após a remoção da pata, causando feridas”, justifica. O procedimento permite que apenas a parte prejudicada seja retirada e reconstruída.
A prótese custa, aproximadamente, R$ 4 mil e cada caso exige uma série de estudos com relação a peso, idade e estrutura óssea do animal.
Mais informações: (81) 3432-4099