Quem vê o pequeno João Miguel, de um ano e oito meses, correndo e brincando pela casa onde vive com os pais e as duas irmãs, na Iputinga, Zona Oeste do Recife, não imagina que o pequeno havia sido desacreditado pelos médicos nos primeiros meses de vida. Portador de microcefalia, ele foi uma das primeiras vítimas do surto da malformação em Pernambuco, em outubro de 2015. Na época, pouco se sabia a respeito da condição e o prognóstico não era animador. A vitória é ainda maior para a família porque boa parte do trabalho de estimulação é realizado em casa.
“Eu tinha perdido outro filho menos de um ano antes, quando recebi a notícia de que João Miguel poderia não sobreviver. Disseram que ele não viveria muito, que não andaria e não comeria sozinho”, lembra, emocionada, Rosileide Maria da Silva, 31, mãe do menino. João nasceu com 29 centímetros de perímetro cefálico e com problema de visão.
O quadro ficou ainda mais difícil quando, aos sete meses, o pequeno teve complicações respiratórias decorrentes de uma pneumonia, resultando em duas paradas cardíacas.
Foram 12 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e 28 de internação. “O médico chegou pra mim e disse que ele não ia resistir, porque a situação era grave. Eu pensei: ‘Senhor, de novo comigo? Eu não aceito’. Por mais que os médicos dissessem que ele não sobreviveria, eu coloquei na cabeça que ia sair dali com meu filho no braço.” João Miguel deixou o hospital sem nenhuma sequela.
Com essa mesma determinação, Rosileide aprendeu os exercícios de estimulação sensorial e os colocou em prática em casa, já que enfrentou dificuldade para conseguir atendimento na rede pública de saúde. Hoje João Miguel é atendido na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) e na Fundação Altino Ventura (FAV), mas os exercícios continuam sendo administrados pela família.
O resultado surpreende familiares e profissionais de saúde. “João hoje é bem levado, gosta de brincar, jogar bola e dançar”, revela a mãe. Embora ainda não fale, o menino corre, senta sozinho e consegue fazer o movimento de sucção, uma das grandes dificuldades dos bebês portadores da malformação.
Médica do garoto desde o nascimento e uma das primeiras a perceber o surto de microcefalia em Pernambuco, em consequência do zika vírus, a neuropediatra Vanessa Van der Linden destaca que cada criança reage de uma maneira. “Depende da lesão cerebral e do estímulo que é oferecido. Toda criança com resposta boa tem essa combinação: um grau de comprometimento menor e estímulo da família. João está melhor do que eu imaginei que ficaria. É um quadro que vem me surpreendendo”, comemora.
Para Rosileide, resta uma única certeza: “Tudo o que eu fiz pelo meu filho durante esse tempo, faria novamente.”