Muito além da valorização do conjunto arquitetônico da Igreja Matriz de São José, localizada no bairro homônimo, área central do Recife, o tombamento do templo, aprovado na semana passada pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado de Pernambuco, representa esperança. A edificação secular está interditada há quatro anos, quando parte do teto desabou. Orçada em R$ 1 milhão, a obra de restauro está longe de sair do papel. A expectativa é que o reconhecimento do título por parte da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) abra caminhos para a captação dos recursos necessários à intervenção, que é urgente.
Localizada na Rua Imperial, a igreja, de 1844, agoniza ao lado do Museu da Cidade do Recife, no Forte das Cinco Pontas. O mato invade o prédio por um buraco no teto. Os locais que ainda resistem sofrem com infiltrações e pequenos desabamentos constantes. “O nível de deterioração é tão grande que não há como consertar. Será preciso derrubar e começar toda a cobertura do zero. Não é fácil, porque temos aqui a maior área coberta do Recife entre as igrejas”, lamenta o padre José Augusto Esteves, pároco da Matriz de São José há 46 anos. Outros reparos, como recuperação de pinturas, só podem ser feitos após a reconstrução do teto.
Segundo ele, os problemas no telhado sempre existiram. A última reforma foi realizada em 1993, quando 15 mil telhas foram trocadas. As despesas, na época, foram custeadas com quermesses realizadas pela paróquia. Mas, desde que a cobertura voltou a apresentar problemas, por volta de 2008, a paróquia não dispõe de recursos ou da ajuda externa para financiar os reparos.
“Se depender do nosso dinheiro, a igreja continua caindo. Ou o Estado colabora, ou não fazemos nada”, lamenta o pároco. Desde a interdição do templo, pela Defesa Civil do Recife, o religioso busca recursos para a realização da obra. Em 2015, as esperanças foram depositadas nas medidas mitigadoras do Projeto Novo Recife que incluíam a restauração do templo católico, mas o empreendimento imobiliário de 13 edifícios residenciais e empresariais, no Cais José Estelita, não saiu do papel.
“Há um mês, enviamos um pedido de ajuda a uma instituição católica da Alemanha. Eu espero que, com o tombamento da igreja, seja mais fácil conseguir ajuda financeira. Temos tantos recursos aqui mesmo no Recife, é uma pena termos que recorrer à ajuda internacional”, lamenta o padre José Augusto Esteves. Enquanto a reforma não acontece, as missas são celebradas na Capela da Santíssima Trindade, localizada na Avenida Dantas Barreto, também no bairro de São José, um dos sítios históricos da capital pernambucana.
A matriz, que segue estilo classicista imperial, abriga obras de Francisco Brennand e de sua ex-esposa, Deborah Brennand. O pedido de tombamento foi encaminhado em 2010. “A decisão de transformar a igreja em patrimônio passa pela relevância histórica, cultural e arquitetônica da construção para o bairro de São José”, justifica o frei Luís de França Fernandes, integrante do Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado de Pernambuco e responsável pelo parecer, acolhido por unanimidade no último dia 27 de julho.
Doações de qualquer valor podem ser realizadas através de uma conta da Caixa Econômica Federal (agência 1294, operação 003, conta-corrente 3839-0), em nome da Igreja Matriz de São José. Outras informações sobre como ajudar podem ser obtidas através do telefone (81) 3224-5801.