Moradores da comunidade Conceição das Crioulas, uma das mais emblemáticas representantes da tradição quilombola em Pernambuco, os estudantes Fabilson Antônio de Oliveira e Iara Alícia de Oliveira Silva, ambos de 14 anos, percorreram os 500 quilômetros que separam a comunidade, no Sertão do Estado, da capital, para assumir uma importante missão. Nesta terça-feira (21), eles se tornaram defensores públicos- gerais do Estado por um dia, durante uma ação comemorativa ao Dia Mundial da Criança e à Semana Nacional da Consciência Negra.
A iniciativa é fruto da parceria entre a Defensoria Pública de Pernambuco e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). As comemorações referentes ao Dia Mundial da Criança, celebrado na segunda-feira, acontecem simultaneamente em 140 países, com o tema #CriançasNoControle. “Aqui no Estado, escolhemos dar voz às crianças quilombolas, que são ainda mais invisibilizadas, unindo também a temática às celebrações da Semana da Consciência Negra”, justificou a coordenadora do Unicef no Recife, Jane Santos.
Os estudantes puderam participar de reuniões e decisões administrativas, supervisionados pelo defensor público geral do Estado, Manoel Jerônimo. “É uma forma de chamar atenção para o clamor destas crianças. Precisamos fazer com que as autoridades públicas direcionem seus orçamentos de maneira a priorizar a criança e o adolescente. Enquanto órgão de inclusão, abraçamos a causa em homenagem a essas duas datas tão simbólicas”, destacou Jerônimo.
Para Iara Alícia, a experiência representou uma oportunidade de trazer à tona discussões sobre pautas das lideranças da comunidade quilombola. “Quero defender as crianças e adolescentes e seu direito à educação, moradia e livre culto religioso”, afirmou a menina.
Localizada no município de Salgueiro, no Sertão do Estado, a comunidade Conceição das Crioulas abriga, atualmente, 3,8 mil pessoas. “Esse é um momento importantíssimo para o movimento quilombola e, principalmente, para as crianças que habitam a comunidade. São muitas as negações impostas a elas, além das violações de diretos, como moradia, educação e desenvolvimento da sua própria cultura”, denunciou o professor e integrante da comissão estadual das comunidades quilombolas, Aldemir José da Silva.
Gestor da Escola Professor José Mendes, onde Iara e Fabilson estudam, Aldemir destaca a importância de levar o assunto para as salas de aula. “O processo de existência dos quilombolas, desde as crianças e adolescentes, depende da permanência em seu território e da continuidade da sua cultura.”