Já se passaram exatos 472 dias de uma dor até hoje sem resposta. Não só pela perda, violenta, gratuita, irresponsável. Mas, principalmente, pela impunidade que deixou a morte de dois jovens no vazio. No dia 13 de agosto do ano passado, Isabela Cristina de Lima, 26 anos, e Adriano Francisco da Silva, 19, estavam na calçada, conversando, quando foram atropelados por um veículo dirigido por um motorista embriagado.
As duas vítimas eram moradoras da Entra Apulso, comunidade pobre da Zona Sul do Recife. No volante, estava Pedro Henrique Machado Villacorta, 28, que, apesar de visivelmente bêbado, foi liberado pela polícia. Ontem os parentes de Isabela e Adriano fizeram um protesto para denunciar a falta de punição. Mais um. E avisaram: não vão se calar até que o responsável seja julgado e condenado.
O que mais dói para os familiares é saber que, apesar das mortes, o jovem que estava no volante nunca foi preso. Ao ver as imagens do estudante universitário João Victor Ribeiro de Oliveira Leal dentro da viatura, depois de vitimar duas famílias por dirigir igualmente embriagado, o sentimento de indignação ficou ainda mais forte.
“Lá a polícia agiu corretamente. Prendeu o responsável por uma tragédia terrível. Por que não fizeram o mesmo aqui? Por que somos pobres? Não vamos aceitar que esses crimes sejam esquecidos. Vamos lutar até o fim”, disse a companheira de Isabela, Alda Valéria de Souza, 53. Pedro Henrique foi denunciado por duplo homicídio doloso e deverá ir júri popular, mas ainda não existe uma data definida. O protesto cobrava celeridade da Justiça.
Impactados pela violência da trágica colisão da Tamarineira, familiares da violência no trânsito e entidades de defesa da mobilidade aproveitaram a 72ª Reunião Geral do Fórum Nacional de Prefeitos para clamar pela redução do limite de velocidade nas vias da capital. Uma carta foi entregue ao prefeito Geraldo Júlio pedindo que o limite passe de 60 km/h para 50 km/h como forma de salvar vidas.
A mudança é uma decisão do município, já que o trânsito da capital é municipalizado. Com faixas e cartazes pedindo um basta nas mortes de trânsito, o grupo ocupou a reunião e lembrou que, em 2015, 528 mortes foram registradas no trânsito do Recife, o que representa 32,5 mortes para cada 100 mil habitantes.