Em meio aos alarmantes números de assaltos a ônibus registrados desde o início do ano em Pernambuco (1.327 - de janeiro a novembro, de acordo com a Secretaria de Defesa Social), uma atitude inusitada - e muito bem vinda - aconteceu com uma estudante na manhã desta quinta-feira (14). Beatriz Soares, de 23 anos, foi surpreendida por um homem desconhecido com um bilhete, quando estava em um ônibus da linha 624-Brejo, a caminho do estágio, que fica no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife. No recado, estava escrito: "Esse cara vai roubar você".
Tudo começou quando a estudante de Serviço Social subiu no ônibus, por volta das 10h, e escolheu uma cadeira no final do veículo para se sentar. No local, estavam dois homens e uma mulher. "Sentei na cadeira na frente da mulher. Atrás também tinha um homem com uma roupa azul e um rapaz que tinha um comportamento um pouco suspeito. Ele estava muito agitado, parecia estar sob efeito de drogas e olhava fixamente para mim", relata a jovem.
Ela narra que, em determinado ponto da viagem, o homem de roupa azul se encaminhou para a porta do ônibus, indicando que iria descer. "Mas ele parou na porta e ficou olhando para mim. Depois perguntou: 'Você tem uma caneta para me emprestar?'; eu disse: 'Tenho'. Ele pegou o pedaço de papel, escreveu o bilhete e me deu", lembra Beatriz.
A estudante diz que relutou em ver o que havia escrito no bilhete, achando que se tratava de mais um dos casos de assédio. "No início eu achei que fosse uma atitude de assédio e ignorei o papel. Depois resolvi olhar e vi a mensagem. Fiquei surpresa. Dei o papel para a mulher que estava atrás de mim e a chamei para irmos para a parte da frente do ônibus", relembra a estudante. A jovem diz que não foi assaltada, já que ficou sentada na frente. "Quando eu desci na minha parada, ele já não estava mais no ônibus".
Pouco depois do ocorrido, Beatriz (que já foi assaltada quatro vezes - três durante viagens em ônibus) postou em uma rede social a situação inusitada que ocorreu naquela manhã. Ela conta que o objetivo era fazer um agradecimento ao homem que, de alguma forma, tentou ajudá-la para que ela não fosse vítima mais uma vez.
"Quando vi aquela mensagem me senti triste e aliviada ao mesmo tempo. Eu estou numa posição de vulnerabilidade, sendo mulher, morando no Recife, onde não temos segurança. Mas acho que ainda dá para ter alguma esperança na humanidade", considera.