O Projeto Pinte seu Patrimônio, lançado no fim de 2017 pelo município de Olinda, prevê uma parceria entre moradores do Sítio Histórico e a prefeitura para recuperação das fachadas do casario. Mais do que renovar as cores nas paredes externas dos imóveis, a proposta resgata na Cidade Alta o uso da pintura a cal, considerada compatível com a alvenaria antiga.
“Como tinta plástica, a PVA impermeabiliza a parede e forma bolhas, enquanto a pintura à base de cal permite a respiração (movimento de contração e dilatação da parede). Ela é indicada para as casas históricas, mas não há lei que obrigue o morador a fazer a pintura com cal virgem. O projeto é um incentivo à manutenção do casario tombado”, declara a secretária-executiva de Patrimônio de Olinda, Ana Cláudia Fonseca.
No período de dezembro de 2017 a junho de 2018, três moradias tiveram a fachada recuperada, sendo uma na Praça João Pessoa, uma na Rua Eustáquio de Carvalho (ambas situadas no bairro do Carmo) e outra na Rua do Amparo. Uma obra está em andamento na Rua 13 de Maio e a quinta intervenção, na Rua de São Bento, está sendo negociada entre a prefeitura e a proprietária da edificação.
Os interessados em participar do projeto precisam fazer inscrição na Secretaria de Patrimônio de Olinda (Rua de São Bento, 160, Varadouro). Só pode se candidatar quem estiver em dia com o pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e sem pendências jurídicas com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e com o município, avisa Ana Cláudia.
“Nós oferecemos a mão de obra e a assessoria técnica, o morador compra o material necessário para a obra”, informa a secretária-executiva. A casa pode ser pintada na cor branca ou em outros tons, com a mistura da cal e pigmento mineral. “Fizemos simulação de cores para mostrar aos moradores”, diz ela. A proposta inicial era pintar apenas a parede, mas grades e esquadrias também estão sendo contempladas com uma demão simples de tinta.
Se tiver alguma peça decorativa na fachada, com avaria, o Laboratório de Restauro de Olinda faz o reparo, afirma Ana Cláudia Fonseca. O serviço de pintura é executado por reeducandos do sistema prisional que atuam no Projeto de Zeladoria do Patrimônio, num convênio entre a prefeitura e a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Governo do Estado.
A arquiteta Nazaré Reis, proprietária da casa de número 15 da Rua 13 de Maio, que teve a obra iniciada há 15 dias, aprova a iniciativa. “É um trabalho importante, forma pessoal especializado numa área que não tem tanta gente disponível e dá uma oportunidade aos reeducandos. Eles mostram muita vontade de acertar”, declara Nazaré Reis, que pretende pintar a fachada de branco.
“Descobri, durante a obra, que a minha casa é mais antiga do que eu imaginava. Pelos detalhes, parecia ser um imóvel do começo do século 20, mas quando a tinta foi removida e pedaços do reboco frouxo se desprenderam, apareceu a alvenaria mista de pedra e tijolo. A parede é de 1800 (século 19) para trás”, declara Nazaré Reis. Leques decorativos da fachada, escondidos sob camadas de tinta, agora ficarão aparentes. As falhas no reboco foram corrigidas com argamassa de cal.
A casa da Rua do Amparo teve a pichação removida e a tinta retirada, antes de ser pintada de amarelo. “Consertamos o reboco, pintamos com tinta cerâmica as telhas de três níveis aparentes na fachada e lavamos a cantaria (pedra) em volta das portas e janelas com água e sabão neutro”, diz a engenheira da Secretaria de Patrimônio de Olinda Joana Aureliano.
Dezoito pessoas (proprietários e inquilinos) se inscreveram no projeto, que tem apoio técnico do Estúdio Sarasá, de São Paulo, com atuação na área de restauração de monumentos. A secretaria fará oficina de educação patrimonial com os reeducandos do Projeto de Zeladoria no próximo dia 20 de junho.