Insegurança

Violência no Ibura deixa moradores aterrorizados

Guerra do tráfico tem motivado vários homicídios e fala-se até em toque de recolher e violência policial

AMANDA RAINHERI
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AMANDA RAINHERI
Publicado em 21/06/2018 às 7:31
Bobby Fabisak/JC Imagem
Guerra do tráfico tem motivado vários homicídios e fala-se até em toque de recolher e violência policial - FOTO: Bobby Fabisak/JC Imagem
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"Aqui a gente não pode falar nada sobre isso, não." A apreensão da moradora da Vila dos Milagres, no bairro do Ibura, Zona Sul do Recife, reflete o clima de medo que se instaurou na região desde o início do mês, quando uma verdadeira guerra entre traficantes e policiais teve início. Nas ruas, poucas pessoas e vários estabelecimentos fechados. As mortes ganham os noticiários quase diariamente, mas na comunidade, ninguém viu nem sabe de nada. O confronto mais recente deixou três mortos e dois feridos ontem, na Vila dos Milagres, nesta quarta. Entre eles um policial militar do Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI). Além dos três mortos, dois suspeitos foram presos. Um continua foragido.

Na terça-feira da semana passada, a mesma comunidade foi palco para a execução de um homem e a tentativa de assassinato de uma mulher. Paulo Ricardo Santos de Santana, 34, teve a casa invadida. Os suspeitos estariam à procura do irmão dele, que não estava na residência. A esposa e a filha de Paulo, de apenas três anos, foram agredidas. Já Patrícia Conceição, 33, levou um tiro no pescoço por, supostamente, repassar informações a policiais.

No dia seguinte, outros dois homens morreram vítimas de arma de fogo. Os corpos foram jogados de uma barreira de 50 metros de altura, também na Vila dos Milagres. Pelo menos um deles teria envolvimento com drogas. Na semana anterior, outras duas mortes foram noticiadas.

"Por aqui tem tiro a qualquer hora do dia, tanto de polícia como de traficante. A gente vive com medo, mas não tem como ficar trancado dentro de casa o tempo inteiro", lamenta outra moradora da Vila dos Milagres, que preferiu não se identificar. Segundo ela, que vive há 30 anos no local, o Ibura sempre foi um bairro perigoso, mas a situação piorou recentemente. "Ninguém sabe explicar o que aconteceu, mas a gente sabe que tem a ver com droga."

VIOLÊNCIA POLICIAL

Não bastasse a guerra entre grupos rivais pelo domínio do tráfico na região, que teria imposto um toque de recolher na área, a população ainda denuncia casos de violência policial. Uma nota divulgada pela Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas aponta ameaças a moradores, invasão de casas sem ordem judicial e truculência por parte da Polícia Militar. "A proibição das drogas é o motivo usado pelo Estado para autorizar a polícia a violar direitos, matar pessoas e prender inocentes diariamente nas periferias de todo Brasil, todos os dias tem violação de direito nas periferias, morros e favelas das cidades", diz um trecho.

"Isso (toque de recolher) nunca chegou até a gente. Também falam em truculência da polícia e isso não existe. O que existe é uma unidade de força integrada, que foi reativada, para que todos participem junto com a polícia e nos ajudem a vencer a batalha contra o crime", rebate o tentente-coronel Paulo Matos, comandante do 19º Batalhão da Polícia Militar (BPM), responsável pelo Ibura. Segundo ele, o número de ocorrências no bairro tem diminuído.

RESPOSTAS

As poucas respostas dadas pelo governo motivaram o Fórum Popular de Segurança Pública de Pernambuco a encaminhar ofícios ao poder público. Um primeiro documento foi protocolado na semana passada junto à Diretoria de Articulação Social e Direitos Humanos da Polícia Militar. No entanto, o grupo não obteve resposta. Na segunda-feira, um novo ofício foi encaminhado para a ouvidoria da SDS. A partir dele, um encontro foi marcado para a próxima segunda-feira, às 10h, na sede da ouvidoria, localizada no bairro de Santo Amaro, área Central do Recife.

"Queremos entender o que está sendo feito por parte da SDS. Temos relatos de procedimentos ilegais e truculência. Queremos saber como as abordagens policiais estão ocorrendo, quem são as pessoas que morreram, como as investigações estão sendo conduzidas. Os conflitos territoriais e a atuação dos policiais nos preocupam de igual modo, mas só podemos cobrar explicações do Estado", defende Edna Jatobá, coordenadora do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), que integra o fórum.

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