Obras atrasadas da Ponte do Janga esconde outros problemas

Material de construção encostado na rodovia acoberta o crescimento desordenado de uma comunidade que começa a surgir à sombra dos escombros da ponte
Thiago Cabral
Publicado em 10/07/2018 às 13:57
Material de construção encostado na rodovia acoberta o crescimento desordenado de uma comunidade que começa a surgir à sombra dos escombros da ponte Foto: Bobby Fabisak/ JC Imagem


A obra de alargamento da Ponte do Janga, em Paulista, esconde outros problemas além do abandono visível da reforma, parada desde fevereiro deste ano e teve início há mais de três anos. O material de construção encostado na rodovia acoberta o crescimento desordenado de uma comunidade que começa a surgir à sombra dos escombros da ponte. Em ritmo acelerado, dezenas de famílias aproveitam a negligência das obras para ocuparem o mangue no entorno do equipamento, que é uma Área de Preservação Ambiental (APA), acumulando lixo, entulhos e sendo motivo de preocupação dos moradores de Paulista.

Após atravessar a Ponte do Janga, no lado direito da Avenida dr. Cláudio José Gueiros Leite, sentido Olinda-Paulista, em meio ao matagal do mangue, moram cerca de dez famílias de pescadores e catadores em barracos de madeira. O espaço envolto por lixo e cercado pelo mar mais parece com uma ilha, e foi nomeado pelos ocupantes como Ilha da Cirigoia. “Vim para cá porque eu não tinha mais como pagar aluguel. Essa área sempre foi abandonada, era depósito de lixo, de animal morto, ponto de prostituição. Nisso veio eu e outra família comigo, fomos limpando, ajeitando e aqui estamos até hoje”, lembrou o marceneiro Arnaldo Felix dos Santos, de 59 anos, que já retirou do lugar mais de 400 sacos de lixo nas costas, sem falar nos entulhos que já queimou para limpar a área. “Eu quero o mangue preservado”, pontuou.

Do lado direto, a Ilha da Cirigoia reflete o abandono das obras que, somadas a vulnerabilidade social e a necessidade de moradia, resultaram na ocupação que só cresce. Sendo que esse crescimento é mínimo, se comparado a ocupação que acontece há pelos menos três anos ao lado esquerdo da ponte. A área chamada de Enseadinha, onde mais de 150 moradias foram construídas em alvenaria de forma irregular, aumenta de forma exponencial e apesar da intervenção da prefeitura, há dois anos atrás, o terreno se transformou numa comunidade.

O terreno pertence à União e o impasse corre no Ministério Público Federal (MPF) em uma ação movida pela Prefeitura de Paulista para a retirada dessas pessoas.“Historicamente esse pedaço já teve pessoas retiradas, construiu-se o conjunto Dom Helder, perto do Tururu, para encaminhá-los, sendo que não como não houve a demolição das casas e essas pessoas acabaram vendendo ou alugando esses imóveis”, destacou o secretário executivo de Meio Ambiente de Paulista, Leslie Tavares.

O secretário afirmou que ainda nesta semana terá uma audiência com o MPF sobre as ocupações. “Ali se instalou uma situação perigosa. Já tivemos assistentes sociais retirados do lugar sob ameaças e agora a prefeitura só tomará alguma medida após a conclusão do caso no MPF”, pontuou. O gestor ainda ressaltou que as famílias da Enseadinha já foram cadastradas no auxílio.

LONGE DE TERMINAR

A obra financiada pelo governo do Estado e executada pela Prefeitura de Paulista, foi orçada em 17 milhões- onde foram gastos 10,5 mi-, e segue ainda sem previsão de novos investimentos. O alargamento faz parte de uma intervenção que prevê a requalificação de quatro quilômetros da Avenida Cláudio Gueiros Leite, a partir do limite com Olinda e seguindo até a entrada do Conjunto Beira-Mar, na altura da Estrada de Manepá. Procurado pela reportagem do JC o responsável pelos repassses, o Departamento de Estradas e Rodagens (DER) não respondeu aos questionamentos levantados. Da manhã desta segunda-feira (9) até a publicação da matéria, o órgão não se posicionou quanto aos repasses financeiros ou sobre a ocupação irregular. A Prefeitura de Paulista garantiu que com a liberação dos recursos concluirá as obras da ponte em 45 dias.

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