Trinta venezuelanos têm como endereço, desde terça-feira (18), Igarassu, na Região Metropolitana do Recife. Vieram se juntar a outros 69 conterrâneos que vivem na cidade desde o início de julho, depois de passarem por Roraima, na Região Norte do Brasil. Em comum, a fuga da ditadura imposta pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. As famílias que estão há pouco mais de dois meses em Pernambuco encontraram alimento, abrigo e acolhida, itens em falta em seu país, que vive uma crise social, econômica e política sem precedentes. Para os que acabaram de chegar, a expectativa é também de dias melhores. Mas falta ainda, para a maioria dos refugiados, oportunidade de trabalho. O desejo mais forte dos nossos vizinhos sul-americanos é o mesmo: emprego para reconstruir a vida.
Enquanto uma atividade remunerada não chega, vale matar a saudade. O caloroso abraço ontem da professora Nayelis Macuares, 19 anos, na mãe, irmão e sobrinhos, revelou uma lacuna de seis meses sem vê-los e acabou com uma angústia de não mais encontrá-los. Ela e o marido, Jhonard Mendonza, 29, partiram da Venezuela, com destino a Boa Vista, no dia 19 de março. Antes de chegar em Pernambuco, o casal passou por muitos atropelos e dificuldades. Um deles foi a perda do bebê de dois meses que Nayelis trazia no ventre. “A situação lá está muito ruim. Por um mês de trabalho, dando aulas de manhã, à tarde e à noite, recebia o equivalente a três reais”, relata Jhonard, que também é docente.
Os refugiados estão morando em casas da ONG Aldeias Infantis. Eles vieram em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo informações da Casa Civil da Presidência da República, que coordena a interiorização de imigrantes, o total de venezuelanos enviados de Roraima para outros Estados brasileiros já passa de 1,9 mil. São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, além de Pernambuco, são os locais de destino.
O processo de interiorização, que implica a manifestação voluntária do imigrante em ser transferido, conta com o apoio de diversos organismos da Organização das Nações Unidas (ONU), como a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), a Agência da ONU para as Migrações (OIM), o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Essas entidades garantem o acolhimento, inclusive acompanhando questões como a qualidade do atendimento de saúde aos imigrantes e a matrícula de crianças em escolas.
Parte do grupo que chegou a Igarassu em julho, entre adolescentes e adultos, está estudando na Escola Estadual Cosme e Damião. As crianças foram colocadas num colégio da rede municipal. Em agosto, a professora Albanita Almeida organizou com alunos brasileiros uma festa para os refugiados, com mostra de danças e comidas típicas da Venezuela. Houve também uma campanha para arrecadar roupas e brinquedos para os imigrantes.
Coordenador da ONG Aldeias Infantis, Alberes Mendonça, diz que dos 69 imigrantes do primeiro grupo, que chegaram em julho, há professores, estudantes, pedreiros e cozinheiros, entre outras profissões. Dos 39 adultos, sete estão trabalhando com carteira assinada. “A urgência deles é encontrar emprego para que tenham autonomia e consigam sobreviver sozinhos. Até porque o apoio da Agência de Refugiados da ONU é apenas por seis meses”, destaca Alberes Mendonça. (Com informações da Agência Brasil)