O Parque de Esculturas construído no dique do Porto do Recife, que a Polícia Militar de Pernambuco afirma ser monitorado com frequência, teve 86 peças roubadas nos últimos dois anos. “Toneladas de bronze sumiram e isso não é obra de um moleque de bicicleta, os portões da base da Coluna de Cristal pesam 370 quilos cada e levaram os quatro”, informa o escultor Jobson Figueiredo. Ele fez a fundição em bronze das esculturas criadas pelo artista plástico Francisco Brennand para o parque, inaugurado em 2000.
Na manhã dessa segunda-feira (1º/10), um dia depois de o advogado Flávio Mendes de Amorim, 47 anos, ter sido assassinado no Parque de Esculturas, policiais do 19° Batalhão da Polícia Militar faziam rondas no local em carros e motocicletas. Os quatro PMs que fiscalizavam a área em motos passaram com os veículos por dentro da principal escultura do parque, a Coluna de Cristal, aproveitando as aberturas dos portões roubados.
“Essa atitude reflete a falta de preparo para o monitoramento num parque como aquele e a falta de conhecimento de que aquilo é uma escultura e de quem é Francisco Brennand, um artista de nome internacional”, declara Jobson Figueiredo. Entre as peças de bronze roubadas, diz ele, estão os quatro portões, maçaricos, tartarugas (todas), ovos de tartaruga, pássaros pequenos, a língua da serpente marinha, a base das cinco sereias com quase 30 metros de comprimento e placas, incluindo a que trazia a assinatura dos dois artistas.
A placa com assinatura de Brennand e Jobson ficava na Coluna de Cristal, a 2,30 metros do chão. Também furtaram peças de cerâmica de painéis e de bases de esculturas. “É uma falta de respeito com o artista, a cidade e o Estado”, acrescenta o escultor, que concluirá esta semana o projeto de recuperação do Parque de Esculturas, para reposição das peças roubadas e restauração das esculturas quebradas e fraturadas. O trabalho será executado pela Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer do Recife.
“Mas a secretaria não pode ficar sozinha, esse trabalho deve ser casado com ações de segurança para evitar novos roubos”, destaca o escultor. O Parque de Esculturas encontra-se com o piso quebrado e sem iluminação noturna. De acordo com Fernandha Batista, diretora de Manutenção da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), vistorias e reparos são realizados de rotina no sistema de iluminação pública do local.
A maresia, os fortes ventos e atos de vandalismo contribuem para o desgaste da iluminação pública. Em 2017 ladrões furtaram os fios de cobre do parque. A Emlurb gastou R$ 40 mil para repor a fiação e substituiu por alumínio. “Também recuperamos o píer”, diz Fernandha Batista.
“O parque vive às escuras, se deu tempo de levar quilômetros de fios de cobre sem ninguém interferir é porque não há policiamento”, observa Gilberto Pereira, morador do bairro de Brasília Teimosa, Zona Sul do Recife, na entrada do parque. Ele também cobra o funcionamento do posto de segurança construído e nunca utilizado no acesso à área de lazer por Brasília Teimosa. “A presença de um PM na entrada iria inibir as ações criminosas”, observa.
Segundo o tenente-coronel Paulo Matos, comandante do 19º Batalhão da Polícia Militar, o Parque de Esculturas é monitorado pela Patrulha do Bairro, policiamento com motos, reforço da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) e pelo Grupo de Ações Táticas Itinerantes (Gati).
Nessa segunda-feira (1°/10) pela manhã, visitantes do Parque de Esculturas elogiaram a beleza natural do lugar. “A paisagem é muito bonita e as esculturas são lindas, mas o local parece meio largado, há muitos buracos no piso”, comentam os dentistas Bruna Mendes e Diogo Bonazzi, do interior de São Paulo.
Os mineiros Carolina Mourão, Anna Karolyna Silva e Diego Novaes foram o parque pela primeira vez e afirmam que a visita vale a pena. “O piso esburacado não estraga o passeio, isso é fácil de consertar. E o valor da travessia de barco da Praça do Marco Zero (no Bairro do Recife, defronte ao parque) é ótimo, R$ 5 ida e volta”, declaram os amigos.