“A maioria das mulheres descobre que tem HIV quando está grávida e vai fazer exames. Mas quando ela faz o tratamento, a probabilidade de o bebê ser infectado é mínima”, observa uma das coordenadoras da ONG Gestos (que atende a pessoas soropositivas), Jô Meneses. Conforme o último boletim do Ministério da Saúde, em 2017 Pernambuco contabilizou 367 gestantes com o vírus. Este ano, até junho, já eram 250. Um dos grandes desafios do Estado é reduzir a transmissão vertical do HIV – quando a gestante passa o vírus para o bebê. Em 2016, a taxa de detecção de crianças menores de 5 anos infectadas por 100 mil habitantes era de 2,5. Em 2017, subiu para 2,9, a segunda maior no Nordeste.
“O número é muito alto. A gente já deveria ter zerado a transmissão vertical. Tem alguma coisa errada”, salienta Jô. A suspeita recai sobre o pré-natal, onde o vírus deveria ser detectado. “Mas muitas vezes é a gestante que, por algum motivo, não dá continuidade ao tratamento. E algumas têm vergonha de fazer o exame”.
A ativista defende o retorno das campanhas de prevenção, para reforçar a importância do uso da camisinha e de informações, maior controle para não faltar medicamento e mais diálogo com os jovens. “Eles são os mais afetados. É preciso reagir a essa questão de se colocar mordaça na escola, porque ela pode ser o espaço para o jovem receber informações corretas”.
Jô, contudo, reconhece os avanços obtidos. “Hoje quando se recebe o diagnóstico de soropositivo para HIV, a pessoa entra na medicação de imediato e em um tempo curto fica indetectável. Logo que a Aids surgiu, havia uma determinação do Ministério da Saúde de que só a partir da taxa de CD4 (célula de defesa) e da carga viral em num nível X é que começava a medicação. Mas as pesquisas mostraram que quanto antes melhor, porque o vírus não vai se reproduzindo”.
Ela observa que os medicamentos também estão com menos efeitos colaterais e os testes, mais sensíveis e eficazes. “Antes havia uma janela imunológica de seis meses para se detectar. Hoje, com 15 dias após uma relação o teste consegue captar a infecção”, afirma.
Também foram disponibilizados medicamentos de prevenção. “O PREP é de uso contínuo. Para ser tomado antes de se iniciar a relação. Indicado para quem se relaciona com uma pessoa soropositiva, para profissionais do sexo, travestis e transexuais (estes últimos e mais que dobraram a taxa de infecção). Já o PEP é para tomar até 72 horas após uma relação de risco (como no caso de um estupro) e por um período de 28 dias para tratamento completo”.
Jô salienta que a camisinha é indispensável para todos. “São vários tipos de vírus de HIV, não é um só. Uma pessoa que tem HIV e transar com outra sem camisinha corre o risco de se infectar com um vírus diferente e complicar seu tratamento”.