Júri dos Canibais de Garanhuns será retomado neste sábado

Jorge Beltrão, Isabel Cristina e Bruna Cristina são julgados pelas mortes de duas mulheres em Garanhuns, no Agreste, em 2012
JC Online
Publicado em 14/12/2018 às 22:31
Jorge Beltrão, Isabel Cristina e Bruna Cristina são julgados pelas mortes de duas mulheres em Garanhuns, no Agreste, em 2012 Foto: Reprodução/TV Jornal


Após ser interrompido na noite desta sexta-feira (14), o julgamento dos Canibais de Garanhuns, na 1ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, Ilha Joana Bezerra, na área central do Recife, será retomado na manhã deste sábado (15). Durante a primeira fase, que teve início às 10h10 e se estendeu até 20h28, houve o interrogatório dos réus e a apresentação da tese argumentativa da acusação. Na próxima sessão, que deve começar às 9h, a defesa terá três horas para apresentar sua tese.

Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Pires da Silveira e Bruna Cristina Oliveira da Silva são julgados pelas mortes de Gisele Helena da Silva, 31, em 25 de fevereiro de 2012, e de Alexandra da Silva Falcão, 20, em 12 de março do mesmo ano, em Garanhuns, no Agreste do Estado. As duas mulheres foram esquartejadas e partes dos corpos teriam sido armazenadas para o consumo dos três acusados.

O primeiro dos três a ser interrogado foi Jorge. O réu começou a ser questionado pela promotoria. Em seguida, respondeu perguntas das defesas dos réus e de dois dos sete jurados sorteados antes do interrogatório. Ele negou que tenha matado as duas mulheres e apontou Bruna como articuladora e assassina das vítimas.

Segunda a ser ouvida, Isabel respondeu a questionamentos feitos pela defesa e por jurados por meio do juiz Ernesto Bezerra Cavalcanti. Ela afirmou que não teve participação nas mortes. Ouvida por último, Bruna também foi questionada pela defesa e por jurados e alegou que o responsável pelas mortes e esquartejamentos é Jorge. 

Promotoria

Após o interrogatório dos réus, teve início a fase de debates orais com a apresentação da tese argumentativa do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). O promotor André Rabelo apresentou laudo médico realizado pelo Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico em relação aos três réus e afirmou que eles possuem transtorno de personalidade e não uma doença mental. Para a promotoria, os exames apontam que o trio é imputável, ou seja, tem capacidade de responder pelos próprios atos. "Aqui não tem ninguém com doença mental, o que tem aqui é uma seita".

De acordo com o promotor, o trio criou uma seita onde um dos objetivos era o controle da natalidade. Eles procurariam mulheres vulneráveis, em busca de amparo, que tinham filhos de pais diferentes e estavam solteiras. Teriam de ser quatro vítimas ao ano.

Segundo a promotoria, o trio acreditava que consumir carne humana era um ritual de purificação para eles e para as vítimas. Mãos e pés das vítimas eram amputados porque concentrariam impurezas. "Tenho 25 anos de Ministério Público e 10 de advocacia. Nunca tinha visto uma situação macabra como essa. O que é pior? Tudo na presença de uma garotinha, filha de uma moça assassinada por eles".

Neste sábado (15), após a fala dos advogados do trio, poderá haver réplica do promotor e tréplica da defesa, com o tempo máximo de duas horas para cada lado. 

Denúncia do MPPE

Segundo a denúncia do MPPE, em 25 de fevereiro de 2012, por volta das 15h, na residência dos acusados, na Rua Emboabas, em Jardim Petrópolis, Garanhuns, Gisele teria sido assassinada com uma faca. De acordo com os autos, a vítima foi atraída para o local por Isabel, sob o pretexto de ouvir conselhos e falar da “Palavra de Deus”. No local, teria conversado com Bruna e quando estava de costas foi atingida por um golpe de faca na garganta desferido por Jorge Negromonte, vindo a óbito, segundo narrado pelo Ministério. A vítima teria sido arrastada para o banheiro onde foi esquartejada por Jorge e Bruna, diz a denúncia. Partes dos corpos teriam sido armazenadas para o consumo dos três acusados. Ainda de acordo com a denúncia, o restante do corpo foi enterrado no quintal da residência em um buraco previamente aberto por Jorge com esse intuito.  Os réus teriam subtraído os pertences da vítima, dentre os quais carteira de trabalho, CPF e cartões de crédito, utilizados para realização de compras no comércio local.

O assassinato da outra vítima, Alexandra da Silva Falcão, de acordo com a denúncia do MPPE, ocorreu no dia 12 de março de 2012, também na residência dos acusados. Alexandra teria sido chamada por Bruna para trabalhar como babá de uma criança que ela apresentaria como filha, enquanto Isabel teria ficado à espreita para garantir a execução do plano. De acordo com os autos, na residência dos réus, enquanto conversava com Bruna, a vítima foi atingida também por um golpe de faca na garganta desferido por Jorge, por meio do qual faleceu. Segundo os autos, em seguida, a mulher foi arrastada para o banheiro, onde foi esquartejada por Jorge e Bruna. Parte dos restos mortais teria sido consumida pelos três e o que sobrou do corpo foi enterrado também numa cova que teria sido feita por Jorge no quintal da sua residência.

Acusações

Os três réus são julgados por duplo homicídio triplamente qualificado (cometidos mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; e à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima); e também pelos crimes de ocultação e vilipêndio de cadáver e de furto qualificado. Jorge e Bruna respondem ainda por estelionato (obtenção de vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício ou qualquer outro meio fraudulento). Bruna será julgada também pelo crime de falsa identidade.

Condenação em 2014

Em 14 de novembro de 2014, os acusados foram condenados por homicídio quadruplamente qualificado, vilipêndio e ocultação de cadáver de Jéssica Camila da Silva Pereira, na 1ª Vara do Tribunal do Júri de Olinda, no Grande Recife, em 14 de novembro de 2014, em sessão presidida pela juíza Maria Segunda de Lima. Jorge Beltrão foi condenado a pena de 21 anos e 6 meses de reclusão, mais 1 ano e 6 meses de detenção. Isabel Cristina foi condenada a 19 anos de reclusão e 1 ano de detenção. Bruna Cristina, a 19 anos de reclusão e 1 ano de detenção.

 

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