Sobrevivente do deslizamento de uma barreira em Caetés 1, Abreu e Lima, no Grande Recife, a dona de casa Hariana Xavier, 38 anos, perdeu marido, três dos quatro filhos e um neto que estava na barriga de uma das filhas, na tragédia. Em uma rede social, ela demonstrava seu amor pela família. "Minha família, presente de Deus", escreveu. Agora, a parte que restou é o que tem dado forças para Hariana se recuperar e sair do Hospital Miguel Arraes, onde está internada há nove dias. Ela machucou a cabeça.
Confira a entrevista:
JC – Do que a senhora lembra na hora do acidente?
Hariana Xavier – Só da destruição. Eu estava dormindo na sala da minha casa porque gosto de assistir à TV até tarde. Os meninos foram cada um para as camas deles. Eu peguei no sono lá mesmo na sala. Não vi nada. Quando escutei a zoada, já estava nos escombros. Fui bater na sala do vizinho da frente, fui arrastada até a casa dele.
JC – Até ser resgatada, o que a senhora pensava?
Hariana – Eu gritei muito. Chamava por Deus, sempre. Eu queria sair dali de todo jeito. Também gritei pelo meu marido e meus filhos. Chamei por todos, mas não escutei ninguém. Meus primos que moram perto ouviram o barulho e correram pra ajudar. Com um dos braços tentei afastar o barro. Lembro também de um senhor que estava lá. Gostaria de encontrá-lo para agradecer. Ele pegou na minha mão e disse que eu ia ter uma grande vitória. Falou que eu ia ser uma vitoriosa e que sairia dali pra contar minha história. Queria muito ver esse senhor de novo.
JC – A senhora e seu marido tinham medo de morar lá?
Hariana – Tínhamos. Mas a gente estava mais tranquilo porque havia o muro de arrimo. Morávamos naquela casa desde que saímos de Camocim (de São Félix, no Agreste). Tinha um pé de jaca, justamente o que caiu por cima da minha casa. Eu pensava que, se essa árvore caísse, não chegaria na minha casa porque ficava do lado e não atrás. Uma pedra do muro de arrimo não caiu.
JC – O que pensa em fazer quando sair do hospital?
Hariana – Para lá eu não quero mais ir, são muitas lembranças. Minha perda é insuperável. Acho que não vou conseguir superar. Mas eu tenho que reagir, né? Meus filhos, meu marido, eram tudo na minha vida. Agora está difícil. Como eu tenho muita gente na família, todos comigo, é o que está me dando uma força tremenda. É o que está me fortalecendo. Penso em passar uns três ou quatro meses na casa da minha sogra, em Camocim. Também ir para São Paulo ficar com minha irmã. Só não volto para Caetés.
JC – A senhora acha que houve negligência da prefeitura?
Hariana – Sim. Eles nunca ligaram pra gente. Ali consta como se tivesse calçado e não tem calçada. Nem o muro de arrimo terminaram. A prefeitura é irresponsável. Minha família não vou ter de volta. Mas meus direitos eu quero. Do que for meu por direito, vou atrás. Estou muito revoltada com isso. Perdi o que eu tinha de mais importante. Só querem dinheiro e voto do povo. Esse é o pior prefeito que Abreu e Lima teve.
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