Arquitetos e urbanistas brasileiros, holandeses e franceses reúnem-se no Recife, desta segunda-feira (02/09) até a próxima sexta-feira (06), para estudar um dos trechos mais antigos da cidade e propor diretrizes que levem ao desenvolvimento sustentável desse lugar. A área escolhida contempla os bairros de Santo Antônio, São José, Cabanga e Ilha Joana Bezerra, localizados no Centro e identificados pela prefeitura como Ilha de Antônio Vaz. É uma denominação que vem do século 17, do tempo dos flamengos no Nordeste brasileiro (1630-1654).
A Ilha de Antônio Vaz, no passado, correspondia aos bairros de Santo Antônio e São José. Depois de sucessivos aterros, perdeu a condição de ilha. Recentemente, a Prefeitura do Recife decidiu ampliar os limites para incluir Cabanga e Joana Bezerra. “O território cresceu e é preciso definir um plano sustentável para garantir a requalificação (resgate de espaços urbanos degradados), renovação (incluir novos padrões de uso) e conservação do patrimônio material e imaterial”, declara o arquiteto Roberto Montezuma.
Cabanga e Ilha Joana Bezerra são contempladas no estudo. Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem
Professor da Universidade Federal de Pernambuco, Roberto Montezuma divide com os arquitetos da UFPE Fabiano Diniz, Fernando Diniz e Luiz Vieira a coordenação do seminário RXH 2019 – Uma visão de Desenvolvimento Sustentável para o Século 21 na Ilha de Antônio Vaz (Ilha de Todos os Tempos). O encontro será realizado no Forte das Cinco Pontas, situado no bairro de São José, pela manhã e à tarde, com oficinas e palestras. A apresentação final, na sexta-feira à tarde, ocorrerá no Porto Digital (Rua do Apolo, 235, Bairro do Recife).
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Quatro grandes temas deverão nortear os debates sobre a Ilha de Antônio Vaz durante o seminário: água, vegetação, patrimônio construído e patrimônio imaterial, seguindo a nova agenda urbana da Organização das Nações Unidas (ONU), afirma Fabiano Diniz. “Vamos estudar sob a ótica do desenvolvimento sustentável o primeiro plano de urbanização do Recife, elaborado na época de Maurício de Nassau (governador do Brasil holandês de 1637-1644), no século 17”, diz o arquiteto.
“Os holandeses usavam a água como elemento de delimitação das quadras, os portugueses mantiveram esse traçado com caminhos de terra, o principal canal da Cidade Maurícia corresponde hoje à Rua das Calçadas (bairro de São José)”, observa Fabiano Diniz. Na avaliação de Roberto Montezuma, a intenção de ordenamento territorial holandesa já trazia aspectos sustentáveis econômico, ambiental e social. “A proposta desse encontro é achar um meio de construir, coletivamente, um pacto pelo futuro”, acrescenta Roberto Montezuma.
Conciliar
A Ilha de Antônio Vaz é um lugar que junta edificações dos séculos 17 ao 21, destaca Roberto Montezuma. “É um espaço que sintetiza riqueza, pobreza, cultura e comércio no Recife”, complementa Fabiano Diniz. O desafio dos arquitetos e urbanistas no seminário é encontrar a conciliação entre desenvolvimento econômico e preservação do patrimônio construído e imaterial, garantindo qualidade de vida aos moradores. “Reinventar a cidade para reocupar áreas ociosas e subutilizadas é importante, mas não é necessário desmontar o que já existe”, ressalta Roberto Montezuma.
Os quatro bairros que formam a chamada Ilha de Antônio Vaz ocupam 5,75 quilômetros quadrados da área total do Recife, de quase 220 quilômetros quadrados. A população nessa região é de 23.153 pessoas, de acordo com o Censo Demográfico de 2010 do IBGE. O bairro mais populoso é a Ilha Joana Bezerra, com 12.629 habitantes, e o menos populoso é Santo Antônio, com 285.
Há, somente, uma Zona Especial de Interesse Social (Zeis) na região, o Coque, comunidade pobre instalada na Ilha Joana Bezerra e num pequeno pedaço do bairro de São José.
Participam do seminário internacional no Recife arquitetos e urbanistas vinculados a, entre outras entidades, UFPE, Agência de Patrimônio Cultural da Holanda, Instituto de Educação das Águas de Delft, Escola Superior de Arquitetura da Universidade de Toulouse (França), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Pesquisa e Inovação para Cidades (Inciti).