A Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife, por onde circulam cerca de 310 mil pessoas por dia, dará mais espaço ao comércio informal. Em vez de abrigar 60 ambulantes, como previsto inicialmente, o projeto de requalificação da via contemplará cem camelôs. Os trabalhadores serão organizados ao longo da avenida, que mede 1,6 quilômetro de extensão, em 50 quiosques padronizados. Apesar do aumento, a prefeitura garante que o comércio será disciplinado e não haverá prejuízo na mobilidade de pedestres e usuários de ônibus.
A previsão da Secretaria Municipal de Mobilidade e Controle Urbano é começar a realocar os vendedores até dezembro. Não será permitida a venda de alimentos. Um protótipo do equipamento foi instalado nas proximidades do cruzamento com a Rua da Aurora. Cada um mede 1,20 por 1 metro e será usado por dois ambulantes (um de cada lado).
“Os comerciantes informais vão ocupar o trecho que chamamos de faixa de serviço, que fica mais próximo ao meio-fio das calçadas, onde também colocamos as árvores e as floreiras. Estarão em pontos que não vão atrapalhar o fluxo das pessoas que chegam e saem das paradas de ônibus nem vão impedir a mobilidade do pedestre, pois um trecho da calçada permanecerá livre”, assegura a diretora-executiva de Projetos Especiais da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana, Eduarda Campos.
O acréscimo de 60 para cem ambulantes atende um pleito da categoria. Segundo o secretário de Mobilidade e Controle Urbano, João Braga, falta definir onde cada um vai ficar ao longo da avenida. “Temos um cadastro, feito em 2015, com 94 nomes. Os ambulantes têm outra lista. Estamos confrontando as informações, conferindo quem permanece no local e quem não está mais. Pretendemos colocar cada um o mais próximo possível do ponto em que comercializa atualmente”, afirma João Braga.
Os camelôs serão convocados para uma reunião com a prefeitura, na próxima semana, para acertar a distribuição e as regras de comercialização. “Não há espaço para todo mundo. É uma realidade que teremos de enfrentar. Todos querem ficar perto do Shopping Boa Vista ou das paradas de ônibus, locais de maior movimento. Eu diria que essa será a parte mais difícil, mas com diálogo vamos resolver”, comenta o secretário de Mobilidade e Controle Urbano.
“Estamos satisfeitos em parte. É bom porque passou de 60 para cem ambulantes nos quiosques. Conseguimos depois de pressionar a prefeitura. Mas ainda é pouco, achamos que dá para colocar mais gente”, comenta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Informal do Recife, Edvaldo Gomes.
De acordo com ele, levantamento realizado pela entidade em abril deste ano registrou 324 ambulantes, entre fixos e volantes. “Mas hoje são 90 trabalhadores fixos na avenida. Os outros vendem nas ruas transversais”, explica Edvaldo. A sugestão do sindicato é que a prefeitura acomode os que não ganharem os quiosques em ruas próximas à Conde da Boa Vista.
João Braga informa que haverá intensa fiscalização. “Não é possível fazer uma obra com essa dimensão, dessa envergadura e não ter um controle rigoroso. Tudo será feito em comum acordo com os ambulantes, mas iremos fiscalizar. Estaremos atentos à ocupação da avenida”, diz o secretário de Mobilidade.
As duas primeiras etapas da requalificação da Conde da Boa Vista foram concluídas com dois meses de antecedência (começaram em abril). A estimativa inicial era acabar em novembro, mas as obras estão encerradas. As intervenções compreenderam os trechos da Rua da Aurora até a Rua do Hospício (norte e sul); Rua do Hospício até a Rua Gervásio Pires (sul) e Rua Gervásio Pires até a Rua da Soledade (norte). Houve a implementação de oito novas paradas de ônibus, 38 floreiras, 15 papeleiras, dois bicicletários e seis faixas elevadas de cruzamentos.
A terceira fase começou no último dia 26 de agosto e deve durar 180 dias. Vai da Rua José de Alencar até a Rua da Soledade (sul) e da Rua da Soledade até a Rua Oswaldo Cruz (norte). Esta semana terá início a construção da primeira parada de BRT, a Estação Hospício. Toda a obra, orçada em R$ 15 milhões e com seis etapas, deve acabar em novembro de 2020.
“Cada fase tem sua particularidade, mas se continuarmos nesse ritmo, poderemos antecipar a conclusão da requalificação”, ressalta o secretário de Infraestrutura e presidente da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), Roberto Gusmão.
“A Conde da Boa Vista foi uma promessa de governo. Terá sempre um olhar atento da gestão municipal. Mas não adianta só a obra se não houver manutenção. Por isso, adotaremos uma sistemática de manutenção a cada 15 dias, além da instalação de câmeras para evitar o vandalismo.”