Recuperação do museu de Dom Helder, no Recife, vai começar, mas não se sabe se vai acabar

Centro de documentação foi alvo de ladrões em janeiro. A direção do Idhec só tem metade do dinheiro necessário para a obra - R$ 75 mil no total
Margarida Azevedo
Publicado em 06/02/2020 às 7:15
Centro de documentação foi alvo de ladrões em janeiro. A direção do Idhec só tem metade do dinheiro necessário para a obra - R$ 75 mil no total Foto: Foto: Felipe Ribeiro / JC Imagem


Pouco mais de um mês atrás, em 3 de janeiro, o Centro de Documentação do Instituto Dom Helder Camara (Idhec), situado ao lado da Igreja das Fronteiras, na Boa Vista, área central do Recife, foi alvo de ladrões que roubaram fios elétricos e equipamentos e depredaram o local. O espaço, que guarda a memória de um dos líderes religiosos mais atuantes do século passado, está fechado desde então. Mas a partir do dia 13 de janeiro começa a recuperação do prédio, com previsão de acabar no fim de abril. A direção do Idhec só tem metade do dinheiro necessário para a obra - R$ 75 mil no total. Aposta, entretanto, que vai conseguir doações para efetuar todo o serviço.

“Uma das características de dom Helder era a audácia. Estamos sendo audaciosos em começar a recuperação do prédio e confiantes que os amigos, a população, os admiradores do Dom da Paz intensifiquem as doações e a gente tenha sucesso nessa empreitada. Lançamos uma campanha que até o momento não atingiu nem 50% do valor necessário”, diz o diretor executivo do Idhec, Antonio Carlos Maranhão.

Uma das estratégias da campanha é a divulgação de pequenos vídeos com pessoas importantes da sociedade pedindo a colaboração. O primeiro foi com o cantor Chico Buarque de Holanda e o segundo com a jurista, professora universitária e membro da Associação Brasileira dos Juristas pela Democracia (ABJD) Carol Proner. Nesta semana sairá o terceiro com o cantora Cylene Araújo.

“Além do furto, os ladrões vandalizaram as nossas instalações. O prédio já apresentava uma situação ruim de construção civil, com avarias como infiltrações. Eles tiveram acesso por um dos buracos do ar condicionado. Identificamos, com isso, que a fachada do centro está oxidada. Por isso vai ser demolida. Outros serviços serão nas parte elétrica e hidráulica”, explica Antônio Carlos. Docentes de engenharia da Escola Politécnica de Pernambuco, da Universidade de Pernambuco (UPE), estão ajudando no projeto da fachada.

ACERVO

É num espaço apertado, na sacristia da Igreja das Fronteiras, ao lado do elevador, que a equipe do Centro de Documentação está trabalhando, provisoriamente, enquanto o prédio não estiver pronto. O acervo, composto por cerca de 200 mil documentos (fotos, cartas, crônicas, discursos, livros) sobre dom Helder ou produzidos por ele, foi transferido para um local mantido pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Está tudo empacotado e num lugar com temperatura adequada para que não seja danificado.

“O calor é muito grande na sacristia. Não é o mais adequado, mas tivemos que improvisar porque não podemos parar o trabalho”, informa a gestora do Idhec, Luciana Valença. Um das atividades é a digitalização dos documentos que são disponibilizados no site da Companhia Editora de Pernambuco. A página já conta com 106 mil itens.

Para visitar a exposição permanente que fica na igreja, é preciso agendar enquanto o prédio do centro ficar em obras (telefones 3231.5341 e 3421.1076). Ano passado foram cerca de 600 visitantes, vindos de vários lugares do Brasil e do mundo.

NOVO PRÉDIO

Depois da reforma, o Idhec planeja ampliar a área do centro de documentação. É um projeto de 10 anos atrás que nunca saiu do papel por falta de recursos financeiros. O terreno para ampliação fica vizinho. Segundo Antônio Carlos, o novo edifício deve custar R$ 250 mil somente para a construção civil.

“A estrutura que temos no Cedhoc é absolutamente insuficiente para abrigar de maneira adequada e conservar ao longo do tempo toda preciosidade do acervo que conta a história de uma pessoa que além de bispo da Igreja Católica foi cidadão do mundo. E reconhecido no mundo inteiro, candidato por quatro vezes a Prêmio Nobel da Paz e impedido de receber essa homenagem por uma ação dos ditadores na década de 70, como está registrado na Comissão Memória e Verdade”, observa o diretor do Idhec.

O projeto está sendo atualizado para concessão das licenças que devem sair neste mês. O instituto vem buscando financiamento dos governos federal, estadual e municipal. O edifício terá térreo e primeiro andar. Na parte superior vai ser guardado o acervo, enquanto no térreo haverá um salão para realização de seminários e para receber escolas, religiosos e visitantes interessados em conhecer a obra de dom Helder.

“Além dos R$ 250 mil para a obra teremos que comprar equipamentos de climatização, arquivos deslizantes para guardar o acervo, mobiliário e um elevador para atender idosos e deficientes”, explica Antônio Carlos.

ANIVERSÁRIO

Se estivesse vivo, dom Helder Camara completaria 111 anos nesta sexta-feira (07). Para celebrar o aniversário do Dom da Paz, falecido aos 90 anos, em agosto de 1999, o Idhec realizará um sarau. Haverá também músicas de Carnaval.

A programação começa às 19h na Igreja das Fronteiras, na Boa Vista, área central do Recife, com declamação de poesias escritas pelo arcebispo emérito. A encenação ficará a cargo de jovens atendidos pela Casa de Frei Francisco, braço social do Idhec que funciona nos Coelhos, também no Centro da capital pernambucana.

Em seguida, a cantora e compositora Cylene Araújo cantará músicas carnavalescas. A festa termina com apresentação, no pátio da igreja, do bloco Artesãos de Pernambuco, acompanhado pela Orquestra de Pau e Corda Evocações, liderada pelo maestro Barbosa.

Os adolescentes que vão participar do recital foram preparados pelo ator Júnior Aguiar, do grupo de teatro Coletivo Grão Comum. Foi ele quem, em dezembro do ano passado, dirigiu e encenou o Auto das Fronteiras. A peça contou o nascimento do menino Jesus baseado nos ideais de dom Helder.

Domingo (09), às 11h, haverá uma missa em Ação de Graças pela vida do Dom da Paz, celebrada pelo capelão da Igreja das Fronteiras, padre Fábio Potiguar Santos.

Doações

CONTA PARA DEPÓSITO – PREFERENCIALMENTE IDENTIFICADO:
IDHeC – Instituto Dom Helder Camara,
CNPJ 08.799.272/0001-05,
Banco Itaú 341, Agência 3175,
Conta Corrente - 19.789-0

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Recife Dom Helder Camara roubo igreja das fronteiras
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