Guerra de paternidade, bullying, fuga de um incêndio, banho de tinta, ameaças de todo tipo, escolta policial... A infância e juventude da maior majestade do Carnaval do Recife não foram fáceis. Desde que trocou de pai, chuva de críticas. Ouviu até que ia tombar sobre os súditos quando virasse adulto.
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Isolado, preso, protegido, foi crescendo, tomando forma, ganhando cores e atiçando mais e mais a curiosidade dos foliões do reino mágico do Carnaval do Recife, a cada detalhe que vazava em imagem. Uma selfie aqui, outra acolá. O bichano ia se revelando.
Foi posto de pé no cativeiro antes do grand finale, ainda depenado, para mostrar que estava crescendo forte, mudando as feições. E haja pancadas nas redes sociais: "galinha maga", "pernudo", "canja", "coisa feia"...
Não deu ouvidos à literalidade das palavras. Começou a entender o motivo das ofensas. Percebeu ali a importância que tem para o povo que naquele momento o negava. Era veneração. Era aguardado por milhões.
Se encheu de expectativa e coragem. Cada vez mais pronto para se mostrar. Até que chegou a prova de fogo. Hora de sair do ninho. Hora de atravessar a cidade, enfrentar o julgamento popular. Partiu seguro em direção à Ponte Duarte Coelho para reivindicar o trono.
Chegou sem estardalhaço. Discreto que só ele. Se vestiu devagar. Curtiu cada hora. E foram muitas. Calçou as esporas afiadas. Levantou o corpo e as asas. Ergueu a cabeça e a crista coral.
Vigiado de perto por transmissões ao vivo, fotos, flashes de telejornais, posts em todas as redes sociais e antisociais. Atenção digna de sua majestade.
Do alto do trono, finalmente cumprimentou os súditos porque a manhã já vinha surgindo. Recebeu saudações das mais emocionadas em troca. O que importa se feio ou se bonito?
Às favas com a métrica, ao inferno com os padrões de beleza, a chatice artística fora daqui. Viva a estranheza. Viva o desritmado. Viva o descompasso. Viva o inesperado. Viva a fantasia. Viva o Carnaval. O patinho feio virou um Galo gigante imponente.