A falta de uso e de manutenção transformou em ruínas o Chalé do Prata, sobrado de dois pavimentos construído no fim do século 19 num fragmento de mata atlântica da Zona Norte do Recife. Abandonada no meio da Unidade de Conservação Parque Estadual Dois Irmãos, a casa encontra-se destelhada, pichada, sem piso, portas e janelas. As madeiras apodreceram, as peças de ferro oxidaram, paredes e cobertas viraram abrigos de fungo, mofo e cupim.
Como não há segurança permanente no local, grades, telhas e madeiras foram saqueadas por pessoas que invadem a mata, abrindo trilhas ilegais. Para completar, o galho de um ingazeiro caiu em cima de um dos terraços laterais, destruindo telhado e colunas de sustentação. A boa notícia é que o Parque Dois Irmãos, responsável pela área, pretende recuperar o sobrado, tombado como patrimônio histórico estadual.
Os recursos para execução da obra, avaliada em R$ 1 milhão, estão assegurados. A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) fez o projeto de restauração. Só falta publicar o edital de licitação e escolher a empresa que vai realizar o serviço, previsto para começar em julho próximo, com dez meses de duração. A expectativa é que o chalé esteja recuperado em maio de 2014.
De acordo com Marina Falcão, bióloga do Parque Estadual, a proposta contempla a instalação de um museu interativo no pavimento térreo, contando aos visitantes a história do lugar. O chalé fica entre os Açudes do Meio e do Prata (primeiro manancial usado no abastecimento d’água do Recife, ainda em atividade), construídos na primeira metade do século 19 pela Companhia do Beberibe, precursora da Compesa.
Reza a lenda que o sobrado tinha sido habitado pela judia Branca Dias, no século 16. O nome Chalé do Prata seria uma referência às joias por ela jogadas no manancial. “Isso não procede, o nome tem origem no excesso de nitrato de prata presente no açude”, diz Leonardo Melo, biólogo do parque. A lenda será resgatada no museu.
O chalé, informa o arquiteto José Luiz Mota Menezes, foi feito para abrigar ingleses que vieram ao Recife ajudar a melhorar a captação de água na cidade, na segunda metade do século 19. Ele atuou como consultor da Compesa na última restauração do sobrado, em 1998. “A casa foi recuperada integralmente, mas não deram nenhum uso, por isso acabou se deteriorando com o passar do tempo”, lamenta o arquiteto.