A Prefeitura do Recife pretende recuperar as características originais de nove áreas verdes da cidade, projetadas pelo famoso paisagista paulista Roberto Burle Marx (1909-1994) entre os anos de 1934 e 1937. Esses espaços e outros seis, que já haviam sido tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em junho passado, foram elevados à categoria de jardins históricos, conforme decreto assinado ontem pelo prefeito Geraldo Júlio.
“O ato registra um valor exclusivo nosso: 15 jardins de Burle Marx. Essa medida vai garantir a preservação definitiva desses espaços”, afirmou o prefeito, adiantando que a prefeitura planeja restaurar os que foram descaracterizados. “Retornar ao projeto original é o caminho natural. Acumulamos estudo suficiente na prefeitura e universidade para isso. Não é uma coisa que se possa fazer da noite para o dia, mas essa é a ideia central”, assegurou.
Durante a assinatura do decreto, a coordenadora do projeto, a arquiteta Lúcia Veras, explicou que jardim histórico é uma categoria prevista no Sistema Municipal de Unidades Protegidas (SMUP), lei em vigor desde o ano passado. “É um espaço verde, inserido na malha urbana, de relevante interesse público”, esclareceu.
A arquiteta apresentou um panorama de como eram os jardins planejados pelo renomado paisagista e como estão atualmente. Também ressaltou a complexidade de restaurar esses espaços. “No caso da Praça Euclides da Cunha (do Internacional) foi muito difícil fazer as pessoas entenderem que as árvores deveriam ser retiradas”, lembrou.
Coordenadora do Laboratório da Paisagem da UFPE (parceiro da prefeitura no projeto), a arquiteta Ana Rita Sá Carneiro informou que algumas Praças, como a Pinto Dâmaso, na Várzea, e a Artur Oscar (do Arsenal) sofreram muitas modificações. “Aquela fonte no meio da Artur Oscar não existia. Para voltar ao que era, também seria preciso retirar o gradil e deixar a praça num plano único para as pessoas circularem.”
Na Pinto Dâmaso, além dos quiosques que enfeiam o espaço, foi instalada uma Academia da Cidade. “Sendo um jardim histórico, esses equipamentos não deveriam estar ali”, diz Ana Rita, enfatizando que qualquer construção num espaço dessa categoria deve ter qualidade arquitetônica. No caso do Largo das Cinco Pontas, a harmonia foi quebrada com a construção do viaduto.
Embora ressalte que será preciso uma intervenção de peso para recuperar os jardins de Burle Marx, Ana Rita diz que ainda é possível identificar traços do paisagista em cada um. “Embora não tenhamos o projeto original de todos, temos declarações e desenhos dele, explicando como eram.” Dois seis jardins tombados pelo Iphan, quatro já foram restaurados.