Nem anjo nem herói. O motorista que evitou que o adolescente de 13 anos fosse sequestrado disse que fez o que qualquer cidadão deveria fazer, diante da situação de violência vivida pelo estudante. A tentativa de sequestro aconteceu na última quinta-feira (16), na Zona Norte do Recife.
JORNAL DO COMMERCIO - O que chamou sua atenção e o motivou a abordar o estudante?
MOTORISTA – Sempre ando muito atento. É o meu perfil. Quando vi o garoto acompanhado de um adulto numa situação que, claramente, fugia da normalidade, aproximei o carro do estudante. Foi quando percebi o menino visivelmente assustado. A expressão do garoto era de socorro. Era uma situação óbvia de tensão e medo. A expressão era de pavor total.
JC – Qual foi a sua reação?
MOTORISTA – Parei imediatamente o carro e saí pela porta do passageiro. Empurrei o bandido, peguei o menino pelo braço e o coloquei dentro do carro. Eram dois marginais, um mais à frente e o outro, ao lado da criança. Ando com spray de pimenta e joguei em cima do marginal que estava mais próximo do estudante.
JC – O senhor não teve medo de que os bandidos estivessem armados?
MOTORISTA – Muitas pessoas me perguntaram isso. Sinceramente nem pensei se estaria correndo perigo ou não. O que vi foi uma criança assustada, sendo levada por dois bandidos. Só Deus sabe o que iria acontecer com ela. Não tive nenhuma atitude de herói. Apenas fiz o que todo o pai faria. Tenho um filho da mesma idade. Poderia ser ele naquela situação de violência.
JC – O adolescente chegou a caminhar por um longo tempo com os bandidos, sem ser abordado por ninguém.
MOTORISTA – Isso foi o que mais me incomodou. Quando parei para refletir sobre o que tinha acontecido, fiquei chocado pelo fato de ninguém ter tido qualquer iniciativa de abordar o menino. Ele passou por vários locais, por loja, posto de gasolina, prédios. Caminhou por mais de um quilômetro coagido por dois bandidos e não despertou a desconfiança de ninguém. Esse individualismo é muito triste. As pessoas perderam a civilidade. Esqueceram o que é ser cidadão. Da mesma forma que eu vi o pavor no rosto daquela criança, outras pessoas também viram e não fizeram nada. Acho que essa é a maior reflexão que temos que fazer.