A polícia que mais mata e a que mais morre. Em 2015, 3.320 pessoas foram mortas em intervenções policiais no Brasil. Na outra ponta, no mesmo ano, 350 policiais morreram assassinados no País, a grande maioria (dois terços) fora de serviço. Os dados do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados no final de 2016 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, colocam o Brasil no topo do ranking entre os países com maior letalidade policial, tanto na condição de vítima quanto de algoz. Sociedade e polícia espelham a violência um do outro.
Ao fotografar a tragédia diária da matança brasileira, o relatório traz uma comparação das taxas de homicídio e letalidade policial do País em relação a outras realidades similares. Em artigo publicado no anuário, a socióloga e diretora-executiva do fórum, Samira Bueno, faz as contas: em Honduras, país considerado o mais violento do mundo, a taxa de letalidade policial é de 1,2. Já na África do Sul, país extremamente desigual e igualmente detentor de altos índices de criminalidade, a letalidade da polícia é de 1,1. Já a taxa brasileira atingiu a marca de 1,6 em 2015, com uma tendência ascendente. “A polícia que queremos não governa pelo medo, mas pela lei”, escreve a pesquisadora.
Cobrar uma conduta legal por parte do aparelho policial precisa ser também uma responsabilidade e um compromisso da sociedade, na visão do corregedor-geral da Secretaria de Defesa Social, o delegado federal Antônio de Pádua. Há três meses à frente do cargo, ele diz que, apesar do descrédito da população em relação ao trabalho das Corregedorias, a instituição tem apresentado resultados.
“No ano passado, expulsamos 84 agentes, entre policiais militares, civis, bombeiros e agentes penitenciários. É um número alto. Nosso trabalho depende da confiança da população. É importante ela denunciar a conduta do mal policial”, reforça. Sobre a violência praticada em Itambé, prefere não se pronunciar, alegando a necessidade de imparcialidade na condução do processo. “A maior resposta da Corregedoria é dar um resultado célere e justo para o caso.”