Câncer de próstata exige maior atenção à saúde emocional

Para muitos homens com o tumor, a possível ameaça à função sexual como efeito do tratamento pode levar a uma diminuição da autoestima e favorecer aparecimento de ansiedade e quadros depressivos
Cinthya Leite
Publicado em 12/11/2016 às 9:26
Para muitos homens com o tumor, a possível ameaça à função sexual como efeito do tratamento pode levar a uma diminuição da autoestima e favorecer aparecimento de ansiedade e quadros depressivos Foto: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem


Tristeza, medo, angústia e insegurança são algumas das reações experimentadas por homens que recebem o diagnóstico de câncer de próstata. Para muitos pacientes, a possível ameaça à função sexual como efeito do tratamento pode levar a uma diminuição da autoestima e abalar a saúde emocional. “Eles ficam tensos quando recebem o diagnóstico, especialmente porque o câncer pode ser fatal. Um outro momento de ansiedade aparece quando falamos sobre tratamentos, capazes de trazer complicações como incontinência urinária e disfunção erétil, que podem nem ser experimentados pela maioria dos pacientes, mas apenas falar sobre essa possibilidade gera muito estresse”, explica o urologista Clóvis Fraga, do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP).

O médico esclarece que, entre os homens que passam pela prostatectomia radical (cirurgia que visa a cura do câncer e realizada quando o tumor está limitado à glândula), a incidência da perda involuntária da urina é em torno de 4%. “Quando a doença é detectada na fase inicial em paciente jovem, com vida sexual ativa, há uma chance de 80% de a disfunção erétil não se manifestar”, frisa Clóvis, ao salientar que a meta é possibilitar o tratamento curativo e evitar qualquer tipo de complicação que comprometa o bem-estar físico e emocional.

“A preocupação com a impotência sexual e a incontinência urinária pode, eventualmente, levar homens com a doença a optarem por não se submeterem ao tratamento para evitar uma possível complicação. Há pacientes que dão muito valor à função sexual e não se imaginam com impotência.” Em situações como essa, segundo Clóvis, o homem pode se submeter à radioterapia (opção de tratamento curativo, assim como a cirurgia), que não traz esses transtornos imediatamente, mas não é um tratamento inofensivo. “Pode levar à incontinência e disfunção erétil a médio prazo. É por isso que o médico tem que apresentar ao paciente todo o leque terapêutico.”

"Muitos homens relatam que as relações sexuais ficam artificiais e que há perda da intimidade com a parceira por medo de ‘falhar’. A dinâmica do casal fica comprometida se isso não for considerado”, frisa o psiquiatra Amaury Cantilino 

SUPORTE

Há casos em que se indica apoio psicoterapêutico, especialmente quando o homem posterga o tratamento como reflexo de uma negação da doença. E, entre os tipos de câncer, o de pulmão e o de próstata são os que mais estão associados a uso de psicofármacos (classe da qual fazem parte os medicamentos antidepressivos e ansiolíticos), segundo explica o psiquiatra Amaury Cantilino, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Estima-se que 15% dos homens com esses tumores manifestem dificuldades com o sono e que cerca de 5% tenham depressão nos primeiros seis meses após o diagnóstico”, revela Amaury, integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O depoimento dele alerta para a necessidade de os médicos se sensibilizarem para o fato de que a retirada do tumor não é necessariamente o suficiente para a recuperação do bem-estar dos pacientes.

“Eles podem desenvolver com mais frequência um quadro depressivo relacionado às disfunções erétil e urinária do que associado ao diagnóstico de câncer de próstata em si. A depressão pode, inclusive, diminuir a percepção dos benefícios proporcionados pelo tratamento cirúrgico. O médico precisa estar pronto para lidar com essa situação.”

"Após a cirurgia, o paciente fica sem ejacular. Ele pode ter ereção, libido e orgasmo, mas não ejacula. E o homem deve ter consciência disso para evitar surpresas ou achar que algo deu errado na operação”, esclarece o urologista Clóvis Fraga

LIMITAÇÃO SOCIAL

Tanto para Amaury Cantilino como para Clóvis Fraga, a perda involuntária da urina (como uma possível consequência do tratamento) merece ser considerada no momento em que se discute a melhor opção terapêutica e também após a cirurgia. Assim como a disfunção erétil, a incontinência urinária é um problema pessoal e conjugal, segundo salienta Clóvis. O detalhe extra que pesa para quem tem a perda da urina é a limitação social. “Mas existem tratamentos para ambas as disfunções.”

A incontinência relacionada à atividade sexual também precisa de um olhar especial. “Isso é particularmente constrangedor porque a micção pode ocorrer no momento do orgasmo ou surgir durante a excitação. A boa notícia é que geralmente esses problemas diminuem com o passar do tempo e podem responder a tratamentos específicos. Um profissional empático e que abra espaço para o paciente falar de suas intimidades terá chance maior de êxito na promoção da saúde do paciente”, diz Amaury Cantilino.

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