A ousadia está aumentando. Diante da dificuldade das polícias de evitar e investigar as explosões de bancos, os assaltantes estão cada dia mais à vontade e violentos. Antes, explodiam os bancos e iam embora. Depois, começaram a atirar contra as unidades da polícia para evitar possíveis reações e, na sequência, a bloquear as estradas queimando veículos. Na madrugada desta quarta-feira, os ladrões foram um pouco mais além em Gameleira, cidade da Zona da Mata Sul de Pernambuco, distante 93 quilômetros do Recife. Além de explosões de dois bancos e ameaças, saíram arrombando estabelecimentos comerciais à procura de caixas eletrônicos. Por quase uma hora, ficaram livres na cidade, sem sofrer qualquer tipo de repressão. Nem da população, muito menos da polícia. À tarde a chefia da Polícia Civil prometeu criar um grupo de inteligência para investigar as quadrilhas.
A presença da polícia na cidade, aliás, quase não é percebida. Uma delegacia de Polícia Civil parece funcionar numa casa apertada e sem infraestrutura – que ontem estava trancada. Na cadeia pública, três PMs cuidam dos presos e também do policiamento ostensivo no município. Enquanto um fica na cadeia, dois circulam pelo município numa viatura velha. “Por isso a cidade foi escolhida para mais um assalto. Só que dessa vez eles ficaram muito à vontade. Os moradores viveram momentos de terror. Os ladrões chegaram atirando e assustando a todos. Nem se quisesse, a polícia tinha como reagir. Seria injusto com os policiais”, relata o morador e vereador de Gameleira, Severino Ramos do Canto Filho, conhecido como Biu do Canto.
Toda a ação aconteceu na Praça Agamenon Magalhães, a principal da cidade e onde se concentra o comércio local. Segundo contam moradores, eram oito homens, utilizando três carros e armamento pesado – fuzis e pistolas. Como já é costume, o grupo se dividiu. Enquanto um explodia as agências do Bradesco e do Banco do Brasil – cada uma de um lado da praça –, o outro assustava a população com tiros para o alto, arrombavam uma padaria e um supermercado em busca de caixas eletrônicos para também explodi-los. “Eu nunca vi tanto terror na minha vida. Foram muitas bombas para intimidar todo mundo. Não só a polícia, mas a população também. Os tiros foram ouvidos a três quilômetros daqui”, relata o comerciante Epaminondas Ferreira, que mora na Praça Agamenon Magalhães e viu toda a ação. “Foi tão desesperador, eles deram tantos tiros e fizeram tantas explosões que eu tive medo e fugi para o mato”, conta.
No lugar de um, os ladrões queimaram dois veículos (Fiats Palio e Siena) e bloquearam os dois acessos que a rodovia PE-73 tem até Gameleira. Também espalharam dezenas de grampos por mais de três quilômetros nos dois sentidos da estrada, na direção da BR-101 Sul e da PE-60. Foi a primeira investida do tipo na cidade, mas entre os moradores a chegada dos ladrões não foi surpresa. “Depois do assalto em Barreiros, onde ficaram mais de duas horas, sabíamos que eles viriam para cá”, reforça Severino Ramos. O assalto na cidade de Barreiros, na mesma região, aconteceu há menos de um mês. Policiais que estiveram na cidade acreditam que o grupo é de outro Estado – provavelmente Alagoas – e que conhecia a região porque os veículos usados na investida estavam muito sujos de terra, aparentando terem circulado por estradas vicinais.
Em relação a lucro, a informação extraoficial que circulava ontem na cidade era de que os ladrões não deram sorte. Conseguiram explodir apenas um dos dois caixas eletrônicos do Bradesco, que deveria ter, em média, R$ 100 mil. O posto do Banco do Brasil, também explodido, funcionava apenas como escritório, sem caixas. O posto do BB existente no supermercado arrombado está desativado há meses e a farmácia, também arrombada, não tinha caixas eletrônicos. Eles estavam numa galeria localizada ao lado, sem que os assaltantes soubessem. A agência do Bradesco era a única que atendia à cidade, que ficará sem banco por, no mínimo, 30 dias – prazo estimado para recuperar o estrago. Já são 128 investidas somente este ano.