Família de jovem baleado pela PM diz que delegacia se recusou a registrar queixa

Segundo advogado da família, logo após a agressão, irmão da vítima foi até a delegacia de Itambé, mas não conseguiu fazer a denúncia
Da editoria de Cidades
Publicado em 21/03/2017 às 7:52
Segundo advogado da família, logo após a agressão, irmão da vítima foi até a delegacia de Itambé, mas não conseguiu fazer a denúncia Foto: Reprodução/vídeo


Quatro dias após o jovem Edvaldo Alves dos Santos, 22 anos, ser atingido, gravemente, por um tiro disparado por um policial militar, durante protesto contra violência, na cidade de Itambé (Zona da Mata do Estado), parentes da vítima ainda não conseguiram prestar queixa na delegacia do município. Logo depois da ação, filmada por manifestantes, o irmão do rapaz foi até a delegacia, mas, segundo o advogado da família, Ronaldo Jordão, os agentes de serviço se recusaram a fazer o registro por envolver denúncia contra PMs. Até a noite de ontemQ, o governo do Estado e a Polícia Militar de Pernambuco só haviam se pronunciado sobre o episódio por meio de nota à imprensa. Edvaldo está internado na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Miguel Arraes, em Paulista, Grande Recife.

No comunicado, a Secretaria de Defesa Social (SDS) afirma que instaurou inquérito policial e procedimento administrativo para apurar o fato. Informa ainda que os PMs foram retirados das funções de policiamento ostensivo até a investigação ser concluída. A Corregedoria da SDS também está atuando no caso. O episódio envolveu dois oficiais e um soldado da 3ª Companhia de Policiamento de Goiana, cidade vizinha a Itambé. No vídeo, o oficial, com patente de capitão, diz: “É esse que vai levar o tiro primeiro?”. Na sequência, ele chama o soldado que dispara o tiro contra Edvaldo. Nas imagens, é possível ver o rapaz caindo no chão ensanguentado. Apesar de ferido, ele é arrastado e agredido por um PM, antes de ser jogado na parte de trás da viatura. Já no carro, um morador continua batendo na vítima, sem que os policiais reajam para evitar a agressão.

Em nota enviada ontem à noite, a Polícia Civil negou que houve obstáculo para os parentes prestarem queixa. “A Polícia Civil desconhece que tenha havido tentativa, por parte de funcionários da delegacia, de impedir o depoimento da família. Ao contrário, a polícia tem todo o interesse em esclarecer os fatos, já tendo tomado os depoimentos dos policiais militares envolvidos, testemunhas, além da realização de diligências e perícias criminais.” Hoje os familiares vão até a delegacia para serem ouvidos pela polícia.

BALA DE BORRACHA

Ontem, em Itambé, manifestantes que participaram do protesto e presenciaram a ação policial entregaram ao deputado Edilson Silva, presidente da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, a cápsula da bala que teria atingido Edvaldo. “A informação é de que foi uma bala de borracha. Mas vamos encaminhar o material para perícia. As imagens deixam clara a tentativa de homicídio contra um cidadão indefeso, que não estava armado nem em atitude de confronto”, afirmou o parlamentar.

“Atiraram contra um inocente. Não vamos deixar isso impune”, revoltou-se o irmão da vítima, José Roberto da Silva Santos. O advogado Ronaldo Jordão disse que a luta agora é para que os policiais sejam indiciados por tentativa de homicídio, tortura, prevaricação e omissão. “O rapaz estava brigando por mais segurança. E leva um tiro saído da arma de um PM. A sociedade está com medo da polícia.”

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