Um disparo de advertência para o chão. Foi esse o relato feito pelo capitão da Polícia Militar Ramon Tadeu Silva Cazé para descrever o tiro que atingiu o jovem Edvaldo Alves dos Santos, 22 anos, baleado pela PM quando participava de um protesto contra a violência, na cidade de Itambé, na Zona da Mata do Estado. O oficial e os outros dois policiais envolvidos na ação (um oficial e um soldado) afirmaram que os manifestantes estavam “fazendo uso de pedaços de madeira nas mãos, copos, garrafas e produtos inflamáveis” e que “começaram a avançar sobre o policiamento”.
O JC teve acesso aos depoimentos prestados pelos três PMs. As declarações foram dadas na delegacia de Itambé, no último dia 17, quando ocorreu a ação policial alvo de investigação. Capitão Cazé estava no comando do grupo e é o oficial que aparece no vídeo gravado por manifestantes fazendo a pergunta: “É esse que vai levar o tiro primeiro?”, referindo-se a Edvaldo. Na sequência, ele chama o soldado Ivaldo Batista de Souza Júnior, que dispara o tiro contra o jovem.
“Em virtude de tais circunstâncias, (o soldado) efetuou um disparo de advertência para o chão, a qual ricocheteou no asfalto e veio atingir de forma inesperada o popular”, afirmou, em depoimento, o capitão. As imagens gravadas no vídeo, no entanto, revelam que, no momento do disparo, Edvaldo está desarmado e não há registro de nenhum outro manifestante portando os materiais descritos pelos policiais.
Nas declarações prestadas à polícia, o oficial diz que o jovem baleado começou a sangrar e que “de imediato o policiamento realizou o socorro feito na viatura da PMPE até o Hospital de Itambé”.
Pelas imagens gravadas (que viralizaram nas redes sociais), é possível ver, logo após o tiro, Edvaldo caindo no chão ensanguentado. Apesar de ferido, o jovem é arrastado e agredido com um tapa no rosto dado pelo próprio oficial. Na sequência, ele é jogado na parte de trás da viatura. Já no carro, Edvaldo continua sendo agredido, desta vez por um morador, sem que os policiais tomem qualquer atitude para evitar a agressão.
Uma semana após a violência policial praticada contra Edvaldo, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, pela primeira vez se pronunciou sobre o caso, na tarde desta quinta-feira (23). Em visita ao Sertão do Estado, ele afirmou que “vai buscar apurar, prender o responsável e buscar incansavelmente que fatos como esse não aconteçam mais.”
A declaração foi prestada após o governador ser questionado pela reportagem do JC sobre qual o recado que gostaria de dar à família da vítima. “Agora a gente tem que buscar dar a assistência necessária e ao mesmo tempo, buscar os responsáveis, apurar direitinho, fazer o que tem que ser feito”, afirmou Paulo Câmara.