O Alto Santa Terezinha e a Bomba do Hemetério, bairros da Zona Norte do Recife, fazem parte de uma lista que é o sonho de qualquer localidade de Pernambuco e do Brasil: eles tiveram zero registro de homicídio durante os oito primeiros meses deste ano. Estão no grupo de 23 bairros do Recife, onde não ocorreu nenhum assassinato de janeiro a agosto. A ausência de crimes violentos letais intencionais (CVLI), no entanto, não garante aos moradores um clima de tranquilidade. Longe disso. Mesmo reconhecendo que o número de homicídios caiu, a população reclama do alto índice de assaltos, aumento do tráfico de drogas e uma rotina de medo e insegurança.
Na Rua Tamboara, principal via do Alto Santa Terezinha, Carlos Alberto Santos, 54 anos, vê a reportagem conversando com vizinhos e pede a palavra. “Eu estou apavorado, em pânico”, diz o caixa de restaurante. Há dois meses, Carlos carrega uma bala alojada na perna esquerda, consequência de uma tentativa de assalto sofrida a poucos metros de sua residência.
Do outro lado da rua, a estudante Polyana Maria de Lira, 28, conta que estava sentada na calçada, com o filho nos braços, quando, dois homens em uma moto anunciaram o assalto. No susto, ela correu para dentro de casa. “Eles pareciam estar armados, mas, para minha sorte, não atiraram. Poderia estar morta agora.”
No Morro da Conceição, a proximidade com o posto da Polícia Militar traz uma sensação de mais segurança para quem é vizinho do Santuário de Nossa Senhora da Conceição. O comerciante Manoel Henrique da Silva Filho, 52, diz que a presença constante do policiamento reduziu o número de assaltos. “As mortes pararam. De uns meses para cá, a situação melhorou”.
Glória Maria de Barros, 45, também comerciante, tem opinião diferente. Diz que a calmaria é mais no entorno do santuário, mas, nas escadarias e ladeiras, o tráfico de drogas e os assaltos são corriqueiros. “O álcool e as drogas estão acabando com os jovens da periferia”, lamenta.
Do outro lado da cidade, o Pina, bairro da Zona Sul do Recife, é um dos bairros que fazem parte da Área Integrada de Segurança (AIS) 3, uma das regiões que apresentou uma das maiores quedas do número de homicídios do Recife. A capital é dividida administrativamente pela Secretaria de Defesa Social em cinco áreas para planejamento e monitoramento das ações de segurança.
Na AIS 3, a redução do número de assassinatos foi de 35%, comparando os meses de janeiro a agosto deste, em relação ao mesmo período de 2017. Moradora do Pina, a manicure Nelsa Ferreira da Silva, 45, diz que a estatística está longe da sua realidade. “Aqui é assalto todo dia. Não temos direito nem de sair de casa com um celular na mão.”