No final da década de 1980, quando foi inaugurada a maternidade do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), os pais dos recém-nascidos prematuros já recebiam sinal verde para entrar e sair da unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal a hora que desejarem. Era uma forma de reduzir o tempo de separação entre mãe, pai e bebê, além de favorecer o vínculo afetivo. Em 1994, essa experiência foi complementada com a prática de manter o neném pele a pele com a mãe – uma técnica batizada de método canguru.
Ao longo dos 20 anos, a estratégia se mostrou fundamental para reduzir a mortalidade na infância, pois contribui para afastar o risco de infecção hospitalar, o estresse e a dor dos bebês. Os benefícios foram reconhecidos recentemente pela 5ª edição do Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que certificou o método canguru como um trabalho capaz de salvar vidas.
“É uma estratégia de valor porque convida a família a participar dos cuidados oferecidos ao prematuro. Ou seja, as mães são orientadas a tirar o bebê da incubadora, colocá-lo na posição canguru no colo e amamentá-lo a partir do momento em que ele está pronto para fazer a sucção”, ensina a pediatra Geisy Lima, que implantou o método no Imip.
Coordenadora da clínica médica de neonatologia do instituto, ela se enche de orgulho para informar que o Imip foi o primeiro hospital brasileiro a criar um espaço para o método. “Desde 2000 esse modelo de assistência foi validado como política pública, através do Ministério da Saúde, e replicado por maternidades do País.”
A vendedora Kássia Matias, 24 anos, é uma das mulheres que se encontram na Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (Ucinca) do Imip. Mãe do pequeno José Guilherme, 1 mês e 12 dias, ela conta que o método a tem ajudado a ter mais segurança para cuidar do seu bebê. “É bom deixá-lo perto de mim. A médica disse que, no meu colo, ele respira melhor porque escuta os batimentos do meu coração”, relata Kássia. O pequeno João Guilherme, que nasceu com 1,25 kg, começa a ganhar peso para, tão logo, ir para casa.
Quem já recebeu alta foi o pequeno Nicolas, 3 meses. Os pais, a dona de casa Macswellem da Silva, 28, e o agente administrativo Michel Antônio Inácio, 29, só têm motivos para comemorar. “Como ele nasceu frágil, passamos por momentos difíceis. “Quando a médica disse que poderíamos ir para casa, alcançamos uma vitória”, conta a mãe, que deu à luz aos 6 meses de gestação pelas hipertensão que desenvolveu. “O método canguru foi uma terapia durante o período de internação. E meu filho também se beneficiou demais, pois só fazia melhorar a cada dia.”
A dona de casa Maria Betânia Silva de Jesus, 39, também conta que virou fã da posição que acolhe seus bebês da forma mais carinhosa possível. Ela é mãe dos trigêmeos Luan, Leandro e Leonardo, 2 meses e 2 dias. “Eles nasceram mais cedo do que o esperado porque a minha barriga já estava muito pequena para eles se desenvolverem”, conta.
Para Maria Betânia, o susto foi grande. “A preocupação continua, mas estou alegre e tranquila, principalmente porque sinto que deixá-los no calor do meu colo faz bem. Os cuidados que eles recebem também fazem com que ganhem peso.” Além de contar com a assistência da pediatria, mães e bebês têm apoio de psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, nutricionista e assistente social, que trabalham de mãos dadas em prol do desenvolvimento físico e mental dos prematuros.