Seu leite não é o que você come. Ao menos é o que afirmam alguns especialistas em aleitamento materno, contradizendo uma polêmica campanha idealizada pela Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul. Os cartazes, que alertam sobre os efeitos da má nutrição da mãe sobre os recém-nascidos, repercutiram na mídia internacional, a exemplo do jornal inglês Daily Mail, que classificou a campanha como “perturbadora”, e têm sido alvo de críticas por parte da comunidade médica.
Os cartazes mostram bebês amamentando, no entanto, os seios das mães foram substituídos por alimentos ricos em gordura como hambúrgueres, doces e refrigerantes, com o slogan "Seu filho é o que você come. Seus hábitos nos primeiros mil dias de vida de seu filho podem impedir que ele desenvolva doenças graves". De acordo com os criadores da campanha, que será lançada oficialmente na próxima segunda-feira (21), a intenção foi sinalizar que as mães podem prejudicar os bebê com uma má alimentação.
Segundo a médica pediatra do Imip, Vilmeide Braga-Serva, a campanha se equivoca ao deixar subentendido que a má nutrição da mulher resultaria na produção de um leite materno inadequado. "A mulher, sendo ela magra ou obesa, se alimentando bem ou com uma dieta rica em gordura e açúcar, é capaz de produzir leite materno saudável e adequado para o bebê. A má alimentação da mãe não deve ser considerada como fator para o desmame", esclarece a especialista, destacando que o leite só tem as taxas de gordura e vitaminas alteradas em casos de desnutrição grave da mãe.
A pediatra destaca ainda que a falta do aleitamento materno é que poderia causar doenças para o bebê. “O leite materno possui mais de 250 substância para proteger o bebê e é capaz de prevenir obesidade, diabetes, alergias e melhorar a imunidade, inclusive na vida adulta. Estudos mostram que os recém-nascidos que mamam na primeira hora de vida têm uma chance 22% menor de morrer durante o primeiro ano de vida”, afirma.
De acordo com recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), os primeiros seis meses do bebê deve ser exclusivamente de aleitamento materno, mas a realidade brasileira é de 54 dias. "Nos primeiros seis meses o bebê tira tudo o que precisa do leite da mãe. Eles não necessitam nem de água. A partir de então, outros alimentos começam a ser introduzidos, mas a amamentação deve seguir até, pelo menos, os 2 anos de vida. O aleitamento materno é fundamental para a criança", finaliza a pediatra Vilmeide.
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