Investigação

Zika e síndrome rara: caso pernambucano ajudou médicos a confirmar relação entre doenças

O Ministério da Saúde identificou em Pernambuco 127 casos suspeitos da síndrome de Guillain-Barré este ano

Do JC Online
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Publicado em 26/11/2015 às 12:57
Foto: acervo pessoal
O Ministério da Saúde identificou em Pernambuco 127 casos suspeitos da síndrome de Guillain-Barré este ano - FOTO: Foto: acervo pessoal
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Em julho deste ano, o blog Casa Saudável, assinado pela jornalista Cinthya Leite, trouxe à tona que Pernambuco estava investigando a  relação da síndrome com zika e dengue. Na ocasião, contou a história do vendedor Cristiano Santos, acometido com a síndrome. Na tarde desta quarta-feira (25), a médica Maria Lúcia Brito Ferreira, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital da Restauração (HR), confirmou que resultados de exames feitos em seis pacientes com manifestações neurológicas indicam infecção pelo vírus da zika.

O Ministério da Saúde, em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde, identificou, em Pernambuco, 127 casos suspeitos da síndrome de Guillain-Barré este ano. Desse total, 46 casos foram confirmados. A associação entre Guillain-Barré e a possibilidade de infecção viral prévia foi observada em 22 casos suspeitos. Parte dos pacientes apresentou manchas vermelhas na pele, dor nas articulações, febre, cefaleia, prurido e dor muscular.

A neurologista acrescenta que decidiu fazer a investigação porque percebeu, de dezembro do ano passado a junho deste ano, um aumento incomum de pacientes com quadros neurológicos. “Muitos relataram que pessoas da família manifestaram um quadro viral semelhante, mas não chegaram a desenvolver manifestações neurológicas. Esse é um ponto que precisamos investigar, pois aqueles que apresentam síndromes depois de uma infecção viral podem ter um sistema imunológico mais vulnerável”, reforça Maria Lúcia.

CONHEÇA A HISTÓRIA DE CRISTIANO

O jornalista Miguel Rios, 47 anos, tem compartilhado, nas redes sociais, a história do companheiro, o vendedor Cristiano Santos, 40, internado no Hospital Esperança, no Recife, há quase sete meses. Em dezembro, Cristiano começou a ter febre, moleza e dor no corpo. Recebeu o diagnóstico de dengue na emergência de outro hospital particular.

“No começo de janeiro, Cristiano ainda tinha febre alta, dor no corpo e respiração difícil. Foi para a emergência do Esperança e ficou internado para averiguação. Acabou que veio o diagnóstico da síndrome de Guillain-Barré. Ele não tinha mais força nas pernas, e a respiração ficava bem mais difícil a cada dia”, conta Miguel.

Na unidade de terapia intensiva (UTI), foi entubado e sedado por causa do desconforto. “Estava bem assustado quando perdeu a capacidade de andar. Toda a família também ficou. É galopante a síndrome. Tínhamos boas esperanças, já que a síndrome de Guillain-Barré é de recuperação longa, mas com grandes chances de cura. No entanto, durante o período de entubação, Cristiano sofreu isquemias cerebrais que, até hoje, têm causas desconhecidas”, relata Miguel.

Entre as hipóteses, segundo o jornalista, está a possibilidade de a síndrome ter, em um caso raríssimo, chegado ao sistema nervoso central. “Agora, Cristiano tem alcançado ganhos neurológicos, como abrir os olhos, perceber movimentos e sons. Já mexe os braços, mas não interage, nem dá sinais de raciocínio. Tantas vezes, fica mirando o teto com olhar perdido ou com os olhos semicerrados e inerte.”

A maior evolução de Cristiano, de acordo com Miguel, está na respiração. “Dependia totalmente da ventilação mecânica. Hoje, traqueostomizado, ele consegue respirar muitas horas sozinho e só vai para a ventilação mecânica por exercícios de fisioterapia”, acrescenta. Atualmente, Cristiano permanece no apartamento do hospital e recebe a boa energia de um universo imenso de pessoas.

ENTENDA A DOENÇA

A síndrome de Guillain-Barré, segundo o neurologista Igor Bruscky, manifesta-se com dormências nos pés associada à fraqueza nas pernas. Esses sintomas geralmente se iniciam de duas a três semanas após uma infecção viral. Os sintomas evoluem de forma ascendente e acometem posteriormente os braços e até a musculatura da respiração, o que pode levar a quadros de falência respiratória. O tratamento deve ser iniciado de forma imediata: é feito com uma medicação chamada imunoglobulina.

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