A cada quinta-feira, mães de bebês com microcefalia sentem um misto de orgulho, emoção e satisfação enquanto observam os ganhos que os filhos alcançam nas sessões de terapia realizadas no Centro Especializado em Reabilitação da Fundação Altino Ventura (FAV), no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife. As atividades encorajam o desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas. Num tapetinho onde se espalham brinquedos multissensoriais, aqueles que estimulam vários órgãos do sentido (visão, audição, tato, olfato e paladar), os pequenos entram em contato com um leque amplo de sensações que ativa o cérebro para transformar cada experiência terapêutica em aprendizado.
“Desde que começou a fazer as atividades, Heitor passou a sustentar mais a cabeça e a abrir as mãos quando encostadas no chão. E em cima da bola, ele se acalma”, conta a dona de casa Janice Lima, mãe do menino, que está com 6 meses. A bola que deixa Heitor tão sereno de barriguinha para baixo (uma posição que promove o controle do pescoço) é a mesma usada em exercícios de pilates. “Gostaria muito de ter uma bola dessas em casa para continuar a estimulação, mas sei que é cara. Temos um tapete de atividades, plaquinhas para estímulo visual, chocalho e uma calça que enchi de espuma para ele ficar alinhado no tapete”, acrescenta Janice.
A FAV fez um levantamento para calcular o custo de um kit de estimulação para que as mães tenham material para manter atividades em casa e, dessa maneira, não deixar passar a janela de oportunidades capaz de promover a capacidade de desenvolvimento da criança com microcefalia.
Um kit completo (tapete, bola suíça, lanterna, placas e bonecos com roupas listradas em preto e branco para estimulação visual, almofadas e brinquedos musicais) custa em torno de R$ 360. “Precisamos de parceiros que possam custear esse kit para as famílias levarem para casa. Os brinquedos potencializam a reabilitação, estimulam a visão pelas cores, contrates e luz, como também o tato, o aprendizado e a audição. O kit que usamos nas terapias encoraja o cérebro a entender melhor os estímulos”, explica a oftalmopediatra Liana Ventura, presidente da FAV.
Na instituição, as atividades das crianças com microcefalia seguem o conceito de Bobath: abordagem terapêutica que tem como objetivo melhorar o movimento, equilíbrio e postura. “Os bebês ficam só de fralda porque precisamos ver como está a contração da musculatura nas atividades”, diz a fisioterapeuta Priscila Vieira.
Já durante as sessões de terapia ocupacional, os pequenos são incentivados a explorar os brinquedos e alcancá-los no tapete (sobre a superfície, é colocado um brinquedinho um pouco longe do bebê como forma de estimulá-lo a fazer as primeiras tentativas de pegar e bater nos objetos). Também são usados objetos com contraste e cores vibrantes que promovem a apreciação da realidade através da visão. No centro da FAV, os bebês também passam por atendimentos com fonoaudiólogos, que estimulam a coordenação das funções de sucção, deglutição e respiração, como também a comunicação e a audição.