As famílias dos bebês com microcefalia que moram no interior de Pernambuco têm deixado de percorrer quilômetros e mais quilômetros nas rodovias para conseguir atendimento focado nas atividades de reabilitação que encorajam o desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas das crianças. Com a implantação de 24 unidades destinadas a essa assistência, a distância percorrida do domicílio para o local de atendimento passou de 420 quilômetros (em outubro de 2015) para uma média de 60 quilômetros. Até julho, com a implantação de mais duas unidades no interior, a expectativa da Secretaria Estadual de Saúde (SES) é de encurtar ainda mais essa distância, para facilitar a ida dos bebês aos serviços que realizam as terapias.
“Em Ouricuri, no Sertão, a equipe dedicada à reabilitação já está formada e capacitada. O espaço para as atividades está sendo otimizado e serão adquiridos equipamentos para se fazer a estimulação dos bebês”, informa a secretária-executiva de Atenção à Saúde da SES, Cristina Mota. No município, até o começo de julho, o serviço deve estar em funcionamento no Hospital Regional Fernando Bezerra. “Já em Palmares, a previsão é de que a assistência seja oferecida até agosto.” Dessa maneira, a SES fica com o compromisso de implementar o atendimento para essas crianças também em Goiana, na Zona da Mata Norte. Por enquanto, elas permanecem vinculadas aos serviços oferecidos pela 1ª Regional de Saúde, da qual fazem parte outros 19 municípios – a maioria deles no Grande Recife.
A presidente da União de Mães de Anjos (entidade que presta assistência para mães de bebês com microcefalia), Germana Soares, reconhece que a ampliação da rede de atendimento e reabilitação tem ajudado as famílias a se deslocarem para os serviços. “Em Caruaru, há dois locais onde as crianças fazem terapias e estão sendo bem atendidas. Além disso, muitas mães deixaram de vir com os bebês frequentemente de Serra Talhada e de Moreilândia (ambos no Sertão) para ter atendimento no Recife. Agora, estão indo para Arcoverde (na mesma região)”, diz Germana. Ela acrescenta que os bebês que moram em Ouricuri, onde ainda não há serviço de reabilitação, fazem atividades de estimulação em Salgueiro, também no Sertão. “As unidades do interior realmente ajudam a desafogar os serviços da capital e evitam que as mães venham de longe e enfrentem horas de viagem para chegar ao Recife para que os bebês passem por uma sessão de fisioterapia de 30 minutos e outra de terapia ocupacional de 40 minutos. É importante o governo fazer essa descentralização para oferecer melhor qualidade de vida para as famílias”, acrescenta Germana, mãe de Guilherme, 7 meses, que nasceu com microcefalia e síndrome congênita associada ao zika vírus.
PROTOCOLO
Atualmente, Pernambuco já registra 70 bebês sem microcefalia e que apresentam alterações em exames de imagem (como a tomografia) que sugerem zika congênita. Eles representam quase 20% do total de casos confirmados da malformação (366). “São bebês com alteração neurológica e que estão sendo acompanhados na rede de assistência”, frisa Cristina Mota. Para que essas crianças possam receber monitoramento adequado, a SES deve divulgar, em 15 dias, um novo protocolo de vigilância de casos que deixa de limitar a visão para a microcefalia. Serão considerados como casos suspeitos de zika congênita, por exemplo, bebês que nascem com alguma malformação ou alteração congênita do sistema nervoso central cuja mãe resida em áreas com epidemia de zika.