A violência conjugal pode ser um fator de risco para o desenvolvimento do câncer de mama, que mata anualmente 13 mil mulheres no País, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). A conclusão é fruto da pesquisa Influência do diagnóstico de câncer de mama na violência conjugal contra a mulher, realizada durante o curso de mestrado em Perícias Forenses da oncologista Cristiana Tavares, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, área central do Recife. O estudo, inédito, mostrou que 42% das 200 mulheres com câncer de mama entrevistadas relataram que sofriam violência conjugal antes do diagnóstico do tumor.
“Na minha prática como oncologista, sempre observei muitas queixas de mulheres com a doença que eram vítimas de agressão. Então, apareceram alguns questionamentos: será que a mulher que se submete à mastectomia é mais violentada porque retirou a mama ou pelo fato de o tratamento ter alterado a libido? Ou será que a violência leva ao câncer de mama?”, indagou a oncologista, que ouviu relatos diversos das mulheres que participaram da pesquisa. “A maioria se referiu à violência psicológica, mas também houve menção de agressão sexual, patrimonial e física. Várias também relataram ser vítimas de injúria e difamação.”
As ofensas foram praticadas por companheiros ou ex-companheiros. Em artigo publicado na Derecho y Cambio Social, Cristiana e outros pesquisadores destacam que a violência conjugal provoca sérios problemas de saúde física e mental na população feminina. Mulheres que experimentaram esse tipo de agressão, segundo os especialistas, relatam estresse emocional e tendência ao suicídio, além de uma saúde frágil.
Para explicar como a violência conjugal desponta como um fator capaz de contribuir com o aparecimento do câncer de mama, Cristiana Tavares salienta que o estresse causado por um ciclo de agressões pode comprometer a imunidade. “Uma mulher que sofre uma violência crônica tem uma baixa de autoestima e começa a se questionar sobre valores e incertezas. Isso pode desestabilizar o sistema imunológico. Há uma baixa das defesas do organismo pelo estresse”, frisa a médica. Dessa forma, as tensões persistentes e intensas vividas pela violência conjugal podem ser um gatilho para o câncer de mama.
A oncologista ainda chama a atenção para o percentual de mulheres agredidas no País. “Sabemos que 33% das brasileiras sofrem violência conjugal. E às vezes são agressões associadas. Em alguns casos, elas são vítimas e nem percebem, especialmente quando se trata de violência psicológica.”
Como forma de oferecer melhor acompanhamento a essas mulheres com o tumor agredidas por companheiros e ex-companheiros, Cristiana sugere que os profissionais de saúde procurem saber, durante as consultas, sobre a vida conjugal das pacientes. “Com esse cuidado, é possível nortear melhor o tratamento e oferecer não apenas opções medicamentosas a essa mulher vítima de violência. Podemos encaminhá-la a um centro de apoio e a atendimento psicológico”, finaliza Cristiana.