Esporotricose: doença que afeta gatos torna-se comum em humanos

Só no HC da UFPE, 15 pacientes estão em tratamento para esporotricose; outros três casos estão em investigação. Outros laboratórios também têm registrado ocorrências da doença
Cinthya Leite
Publicado em 24/05/2017 às 10:54
Só no HC da UFPE, 15 pacientes estão em tratamento para esporotricose; outros três casos estão em investigação. Outros laboratórios também têm registrado ocorrências da doença Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Passados dois meses da inauguração do Ambulatório de Esporotricose da Clínica Dermatológica do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), 15 pacientes já estão em tratamento para a doença, considerada uma micose subcutânea causada pelo fungo Sporothrix schenckii e que pode afetar humanos e animais, especialmente gatos. “Há mais três pacientes que foram atendidos na última semana. Foram feitos exames para confirmar ou descartar esporotricose, que tem se tornado bem mais frequente. Os casos eram esporádicos”, diz a dermatologista do HC Cláudia Ferraz.

Os 15 registros confirmados e os outros três em investigação no HC se somam aos cinco casos humanos diagnosticados este ano, até abril, pelo Laboratório Central de Pernambuco (Lacen/PE). No segundo semestre do ano passado, também foram cinco casos humanos detectados pelo laboratório, que também confirmou 33 ocorrências em animais.

Da zona rural para as cidades

O Laboratório de Micologia da Universidade de Pernambuco (UPE) também tem observado uma maior ocorrência da esporotricose. “Começamos a ver aumento dos casos no Serviço de Prontoatendimento Dermatológico (do Hospital Universitário Oswaldo Cruz) desde maio do ano passado, quando chegamos a atender sete pacientes no mês. Para uma doença diagnosticada entre uma e duas vezes ao ano, esse volume é relevante”, diz a dermatologista Angela Rapela, professora da UPE.

Ainda segundo Angela Rapela, os casos vêm (também) do Grande Recife, o que revela a urbanização da esporotricose, micose que era praticamente exclusiva da zona rural. “Isso (mudança de padrão de ocorrência da doença) é o nosso receio. Além dos pacientes na rede pública, temos atendido casos em consultório particular.”

Foram os dados de 2016 do Lacen/PE que levaram a Secretaria Estadual de Saúde (SES) a implementar a vigilância da doença com a notificação de casos. Segundo a veterinária Geane Oliveira, coordenadora de Diagnóstico de Zoonoses e Outras Endemias do Lacen/PE, só naquele ano foram investigados 73 casos em animais (45 confirmados) e 14 em humanos (5 confirmados). Os números revelam percentuais de positividade altos: 62% em animais e 36% em humanos.

No Laboratório de Micologia Médica do Centro de Biociências da UFPE, é feito o diagnóstico da micose dos pacientes da Clínica Dermatológica do HC. “Analisamos não apenas casos do Recife, mas também de Camaragibe, Igarassu, Abreu e Lima, Olinda e Cabo de Santo Agostinho”, diz o coordenador do laboratório, Armando Marsden.

No Ambulatório de Esporotricose do HC, os pacientes do Recife são moradores de bairros como Cordeiro, Torrões e Torre (os três na Zona Oeste) e têm sido encaminhados dos postos de saúde, segundo Cláudia Ferraz. “Um detalhe é que 90% dos atendimentos são feitos em pessoas que tiveram contato prévio com gatos. Isso levanta um alerta sobre uma provável área de infecção animal”, salienta. É através das unhadas e mordidas que os gatos infectados transmitem o fungo (geralmente habita o solo, palhas, vegetais e também madeiras) a outros felinos e também a humanos.

A boa notícia é que, no HC, os pacientes têm respondido ao tratamento (feito com o antifúngico itraconazol), disponibilizado pela farmácia do hospital. “Observamos que a lesão vai diminuindo e que as feridas cicatrizam. A melhora é evidente”, diz Cláudia.

Serviço:

- Em Pernambuco, pacientes devem ser encaminhados por qualquer médico para o HC. Quem tiver dúvidas pode entrar em contato pelo telefone da clínica (81 2126-3527 e 81 2126-3528)

- O Lacen/PE disponibiliza contato para dúvidas sobre a notificação da doença: 81 3184-0214 e 81 3184-3919

Saiba mais

- Nos gatos, as manifestações clínicas da esporotricose são variadas. Os sinais mais observados são as lesões ulceradas na pele (feridas profundas, geralmente com pus, que não cicatrizam e costumam evoluir rapidamente). A esporotricose está incluída no grupo das micoses subcutâneas

- Embora a esporotricose já tenha sido relacionada a arranhaduras ou mordeduras de cães, ratos e outros pequenos animais, os gatos são os principais animais afetados e podem transmitir a doença para os seres humanos. O fungo causador da esporotricose geralmente habita o solo, palhas, vegetais e também madeiras. Pode ser transmitido por meio de materiais contaminados, como farpas ou espinhos. Animais contaminados, em especial os gatos, também transmitem a doença, por meio de arranhões, mordidas e contato direto da pele lesionada

- O homem pega o fungo geralmente após algum pequeno acidente, como uma pancada ou esbarrão, onde a pele entra em contato com algum meio contaminado pelo fungo. Por exemplo: tábuas úmidas de madeira. Outra forma de contágio são arranhões e mordidas de animais que já tenham a doença ou o contato de pele diretamente com as lesões de bichos contaminados. A melhor solução para evitar que a doença se espalhe é cuidar dos animais doentes, adotando, para isso, algumas precauções simples, como o uso de luvas e a lavagem cuidadosa das mãos

Fonte do "Saiba mais": INI/Fiocruz

 

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