A tireoide é uma glândula pequenina, mas tem uma responsabilidade inversamente proporcional ao seu tamanho. Basta dizer que produz dois hormônios (triiodotironina, T3; tiroxina, T4) valiosos em todas as fases da vida: na formação dos órgãos fetais (principalmente o cérebro), no crescimento, na fertilidade e na reprodução. Somados a esses ofícios, vale listar outras funções pouco conhecidas da tireoide: são esses hormônios que também atuam nos batimentos cardíacos, sono, raciocínio, memória, humor, funcionamento intestinal e metabolismo.
Essa lista de responsabilidades da glândula, localizada na parte anterior do pescoço (logo abaixo do pomo-de-adão), justifica por que a tireoide tem sido tão debatida nos congressos médicos. No EndoRecife, congresso da endocrinologia pernambucana que começa na quinta-feira (29), pelo menos oito debates são relacionados ao tema, especialmente ao aumento dos casos de câncer da tireoide. “Isso tem sido observado porque atualmente a ultrassonografia da tireoide tem possibilitado o diagnóstico de tumores em fase inicial, mas a mortalidade pela doença não aumentou nos últimos 40 anos”, diz o endocrinologista Gustavo Caldas, presidente do EndoRecife.
Com esse cenário, o desafio agora é identificar os tumores que devem ser operados, já que a maioria deles passa longe de malignidade. “Cerca de 90% dos nódulos da tireoide não são câncer. Os outros 10% ou menos são malignos, mas boa parte deles evolui bem”, destaca Gustavo Caldas. Esses percentuais sugerem que não se deve fazer ultrassonografia do pescoço sem indicação precisa e que nem todos os nódulos, mesmo detectados no exame de imagem, precisam passar por punção, realizada para se conhecer o tipo de células do nódulo.
No caso da economista aposentada Maria José de Santana, 69 anos, a punção detectou um carcinoma papilífero, o tumor mais comum da glândula. “Tirei a tireoide em 2004 e fiz tratamento com iodo radioativo. Passei cinco anos fazendo acompanhamento rigoroso e hoje só faço ultrassom anualmente. Tomo um comprimido de T4 por dia (para manter os níveis hormonais normais)”, conta Maria José.
A socióloga Izabella Medeiros, 33, também toma o mesmo medicamento, mas por um outro motivo: ela convive com a tireoidite de Hashimoto – outro problema, mas de caráter autoimune e que destrói o tecido da glândula. “É uma das principais causas de hipotireoidismo”, esclarece Gustavo Caldas. Os sintomas de Hashimoto podem incluir manifestações de hipo e hipertireoidismo. “O tratamento correto mudou completamente a minha vida. Há um ano e meio, não sinto mais cansaço excessivo”, comemora Izabella.