A diarreia é um inconveniente que geralmente desponta como um mal-estar caracterizado pelo aumento do número de evacuações (com fezes aquosas ou de pouca consistência) e que pode vir acompanhado de náusea, vômito, febre e dor abdominal. A maioria dos casos é leve, mas ainda há situações em que o problema representa uma grande ameaça: a doença complica por perda significativa de líquidos e leva à desidratação. Em casos graves, especialmente nos grupos que estão nos extremos da vida (crianças e idosos), a diarreia pode ser fatal, mesmo numa época em que a medicina sabe os caminhos que devem ser seguidos para se prevenir mortes pela doença. Apenas este ano, em Pernambuco, 95 óbitos foram registrados em pessoas que apresentaram doença diarreica aguda (DDA). O número engloba só as notificações feitas até abril, segundo dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).
A SES revela, em boletim de monitoramento semanal da diarreia atualizado no último dia 22, que Pernambuco encontra-se em zona de alerta diante da ocorrência do problema. Só este ano, com dados até o dia 10 deste mês, a diarreia já fez pelo menos 150 mil doentes (dado é subnotificado, já que a DDA não é de notificação compulsória). No mesmo período de 2016 (ano em que se percebeu mudança no padrão de ocorrência da diarreia no Estado), foram 144.293 casos.
“Desde o começo deste mês, temos percebido o aumento no número de pessoas com diarreia, principalmente crianças, que procuram as urgências. O quadro é associado à febre baixa e dor abdominal. No Recife, é provável que seja decorrente de vírus”, explica a infectologista Andrezza de Vasconcelos, dos Hospitais Jayme da Fonte e Getúlio Vargas. A médica acrescenta que o aumento dos casos de diarreia surpreende nesta época do ano com chuvas, quando o mais esperado são as infecções de vias respiratórias. “Ainda há pessoas que apresentam diarreia e não procuram os hospitais, pois os sintomas tendem a se resolver (sem a necessidade de procurar um médico)”, esclarece Andrezza.
A designer gráfico Andreza Rabelo, 24 anos, faz parte do grupo de pessoas, no Estado, que tiveram um quadro viral com diarreia este mês. “Também tive dor abdominal, febre, vômitos e não conseguia me alimentar de forma adequada. Só bebia água de coco. No hospital, o médico disse que estava vendo muitos casos assim. Fiquei preocupada porque passei mais de cinco dias doente. Mas depois o meu organismo se recuperou, e agora estou bem”, conta Andreza.
A infectologista Andrezza de Vasconcelos orienta em relação aos sinais de alarme da diarreia. “Mucosa da boca ressecada, diminuição do volume da urina (que também pode ficar amarelada) e pele seca são manifestações que exigem cuidado, pois refletem desidratação.” Em pacientes com comorbidades (doenças crônicas, como hipertensão e diabetes), o quadro tem maior chance de complicar. “A desidratação grave associada a um vírus (causador da diarreia) tende a favorecer uma segunda infecção, que pode ser bacteriana, por exemplo”, acrescenta a médica.
Nos pacientes com diarreia, a infectologista orienta que é fundamental atenção a outros sinais. “Uma criança sonolenta com a doença e um idoso com o mesmo quadro e que apresenta desorientação exigem cuidados. Para todos os pacientes com diarreia, recomendamos a ingestão de muito líquido, como água e sucos (naturais), especialmente após cada episódio de evacuação. E em casos mais sérios, deve ser feita a hidratação venosa no hospital”, frisa Andrezza. Ela acrescenta que a doença pode não ser a causa principal das mortes, mas certamente "faz parte dos fatores que levam pacientes ao óbito".
Em todo o mundo, quase 90% das mortes por diarreia, segundo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) são atribuídas à má qualidade da água, saneamento inadequado e falta de higiene. Em Pernambuco, a falta de acesso a instalações sanitárias adequadas é um fator que não deixa de preocupar. “No Agreste e no Sertão, os casos de diarreia aguda estão mais relacionados à ingestão de água ou alimento contaminados”, sublinha o diretor-geral de Controle de Doenças e Agravos da SES, George Dimech.