Escutar o sofrimento e entender a dor do outro com calma e aceitação, sem fazer julgamentos, é uma estratégia que pode ser eficaz na prevenção do suicídio, cujos casos ultrapassam a marca dos 12 mil anualmente no Brasil. A reprovação é tudo o que não devemos deixar transparecer ao ouvirmos de uma pessoa que ela está cansada da vida e sem encontrar razão para viver.
“Há uma tendência da sociedade em dar dicas rápidas e conselhos, até bem intencionados, a quem tem uma ideação suicida. Na maioria das vezes, contudo, é necessária a escuta atenta. Quem está em risco (de tirar a própria vida) quer sentir que pode falar sem ser censurado”, salienta o psiquiatra Leonardo Machado, secretário da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria.
Na sexta-feira (1º), em programa na TV JC, Leonardo Machado ressaltou que essa atitude de atenção com o outro não é tão simples, mas pode ser exercitada. “Há pessoas que têm uma sensibilidade maior, uma condição chamada de empatia, caracterizada pela capacidade de se colocar no lugar do outro e entendê-lo. Essa é a empatia afetiva, que é a tendência de sentir o próximo”, completa Leonardo Machado, também professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
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Para os especialistas em saúde mental, as pessoas com comportamento suicida precisam, além de acompanhamento médico, que parentes, amigos e colegas do trabalho tenham empatia. Quem passa pelo sofrimento decorrente da falta de esperança precisa ser ouvido. E é assim que se pode dar um passo essencial para reduzir o nível de desespero das pessoas.
É bom destacar que a empatia também pode ser apreendida. Um caminho para incorporá-la é quebrar tabus e desmistificar a ideia de que o comportamento suicida está associado a uma fraqueza ou falta de autoconfiança. Apagar os mitos é o começo para se oferecer acolhida e apoio emocional a quem está em risco. Nem sempre, contudo, as pessoas que passam por alguma dificuldade contam com a compreensão da família e dos amigos. Não se deve, portanto, desistir de pedir ajuda.
“A nossa prevenção é baseada no ouvir, no partilhar os problemas, que correm o risco de ir se avolumando. É comum recebermos ligações de pessoas com depressão que se queixam da falta de compreensão de seus parentes, uma situação que agrava ainda mais o quadro. É por isso que, para quem está fragilizado, com seus problemas emocionais que podem levar ao pensamento suicida, funcionamos como uma espécie de pronto-socorro”, diz o representante do Centro de Valorização da Vida (CVV) no Recife, Airton Siqueira, que também participou do programa na TV JC sobre o assunto.
Entidade sem fins lucrativos que atua gratuitamente na prevenção do suicídio, o CVV realiza um trabalho, na capital pernambucana, há quase quatro décadas. “A pessoa, insegura emocionalmente, liga para os postos (número do telefone: 141) e conta com voluntários habilitados e treinados a ouvir, que não concorrem com a psiquiatria ou a psicologia. A escuta é respeitosa, silenciosa, absolutamente sigilosa e sem julgamentos. Quem liga fica mais fortalecido”, frisa Airton Siqueira. Ele acrescenta que o CVV não tem como proposta resolver os problemas da população. “Isso não nos compete. Queremos dar força emocional. Terapia e eventual cura competem ao profissional da psiquiatria e psicologia”, esclarece.
Alguns sinais, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), podem ser observados e ajudar na prevenção do suicídio. Expressões que demonstram desespero, desesperança e desamparo estão entre essas pistas que podem ser dadas por pessoas em risco de tentar tirar a própria vida. Especialistas recomendam atenção a comentários como “eu desejaria não ter nascido” e “eu preferia estar morto”, que servem como sinais de alerta. São frases que merecem atenção, especialmente quando ditas por pessoas com algum transtorno mental e em situações de desesperança.