Cuidar da saúde da visão não significa apenas cuidar especificamente dos órgãos responsáveis por ela, os olhos. Tudo está interligado no corpo humano; isso faz especial sentido quando se fala da retinopatia diabética, uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo.
O diabetes acontece quando o corpo não produz insulina, que controla os níveis de açúcar no sangue, ou não emprega adequadamente a insulina que produz. Quando essas taxas se alteram, todo o organismo pode sofrer danos devido à mudança química – cérebro, coração, rins e até os vasos sanguíneos. Por ser uma região altamente vascularizada, os olhos sofrem ainda mais com o diabetes descontrolado. Mais de 13 milhões de pessoas no Brasil têm diabetes, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes.
A retinopatia diabética é justamente uma consequência dos altos níveis de glicose no sangue. Cerca de um terço dos diabéticos tem algum nível de retinopatia. “Se a gente tem um problema na circulação do olho, poderá haver uma falha na nutrição da retina, que é a parte sensorial do olho. E este processo levará às alterações da retinopatia diabética. Quando a diabetes atinge o olho, ela mostra alterações vasculares”, afirma o médico oftalmologista Marcelo Ventura, diretor do Hospital de Olhos de Pernambuco (HOPE). Tais alterações podem até levar à cegueira.
Na sua fase inicial, no entanto, os sintomas são quase imperceptíveis. O paciente pode ter edema de mácula, que é um acúmulo de líquido na retina. “A disfunção dos vasos provoca vazamento de líquido para o tecido, que é o que causa o edema”, continua o dr. Marcelo. Em sua forma mais grave, o corpo encontra formas de levar mais sangue até a retina, e pode ocorrer a proliferação de novos vasos, mais frágeis. Esses vasos podem crescer desordenadamente ou até se romper, provocando sangramentos.
E o primeiro passo para tratar a retinopatia diabética, segundo médicos, é ter um cuidado sistêmico do diabetes em si, não apenas da retinopatia. “Se o paciente não tiver controle do diabetes, é uma questão de tempo até ele ter retinopatia diabética. Não adianta nada a gente estar fazendo o tratamento oftalmológico se o paciente não tiver um tratamento sistêmico associado e adequado. Caso contrário, mesmo com o tratamento do olho, a visão do paciente pode piorar”, explica o médico Vasco Bravo Filho, também do HOPE.
Aos 25 anos, Maria do Carmo Amaral teve diabetes gestacional. Hoje, aos 53, ainda convive com a doença. Após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), os médicos descobriram a retinopatia. “Eu comecei a sentir a perda da visão. Foi quando o médico solicitou os exames. Não enxergo bem. Às vezes conheço a pessoa pela voz. Não vejo direito os rostos, só sei que tem alguém junto de mim”, afirma. Ela conta que não consegue caminhar sozinha e sente falta de ler. “Eu não enxergo direito, ando acompanhada e uso bengala. Porque, além de não enxergar direito, estava tropeçando demais. Gosto muito de ler, e a retinopatia está me atrapalhando”, diz.
Maria do Carmo começou a tratar a retinopatia diabética com injeções, que controlam e até conseguem reverter a doença em alguns casos. As aplicações são feitas no globo ocular, com corticoides ou substâncias antiangiogênicas, que combatem o edema macular e evitam que os vasos se repliquem ou sangrem. Os médicos também podem tratar a retinopatia diabética com laser. “O laser tem o objetivo de tratar áreas da retina sem circulação de sangue ou estimular a própria retina a absorver o líquido que causa o edema macular. Ele pode ser associado às injeções ou usado quando o paciente não tem uma boa resposta a elas”, pontua o dr. Vasco. A Academia Americana de Oftalmologia recomenda procurar um oftalmologista assim que o paciente for diagnosticado com diabetes.
Além das injeções e do laser, ainda é possível tratar a retinopatia diabética com uma cirurgia chamada de vitrectomia. Ela é indicada para casos muito avançados, em que o laser e a injeção não são suficientes.
Mas nada disso trata a causa do problema, que nasce lá no início, no diabetes. O reforço com o cuidado da doença ainda é a mensagem mais importante deixada pelos médicos. “Se você faz uma prevenção no que diz respeito ao controle da glicose e ao controle também da pressão arterial, a chance de você ter uma complicação séria do diabetes no olho é muito pequena. Tratar a consequência sem ao menos tentar controlar a causa não é o caminho certo. Não é só o oftalmologista, não é só o paciente. Entra o endocrinologista, vai entrar o cardiologista para evitar pressão alta... O paciente tem que ser visto por diversos ângulos e diversos médicos”, finaliza dr. Marcelo.
O mês de novembro no HOPE é para alertar sobre os cuidados que portadores do diabetes precisam ter. Para isso, o hospital promove o evento “De Olho no Diabetes”, na próxima terça (28), das 14h às 17h, no auditório da instituição, na Ilha do Leite. Haverá palestras e orientações, além de testes de glicemia e aferição da pressão arterial. Inscrições são gratuitas e devem ser feitas pelo e-mail inscricao.hope@hope.com.br.