Tudo começou com uma dor de estômago e um desconforto no peito após uma festa, em 2016. O diagnóstico veio horas depois: aos 51 anos, a historiadora Ana Helena Guimarães, havia sofrido um infarto. O problema no coração já existia, mas o quadro foi agravado por outro fator: Ana Helena, hoje com 53 anos, fumou por quase duas décadas. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o tabagismo é responsável por 45% das mortes causadas por infarto agudo do miocárdio em pessoas com menos de 65 anos. Para alertar a população quanto às complicações cardiovasculares, a Organização Mundial da Saúde (OMS), escolheu o tema "Tabaco e Doença Cardíaca" para as celebrações do Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado nesta quinta-feira (31) em todo o mundo.
Na vida de Ana, o cigarro esteve presente desde a adolescência. Várias vezes ela tentou abandonar o hábito e teve recaídas. Chegou a ficar 10 anos sem fumar. "Mas da última vez que voltei, aumentei muito a quantidade. Chegava a fumar de duas a três carteiras por dia", conta. A historiadora foi submetida a cirurgia de emergência e passou 17 dias internada, dez na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Foi no hospital que ela descobriu que já tinha problema cardíaco. "O médico disse que, provavelmente, isso iria acontecer um dia. Mas o cigarro acelerou o processo. Desde então, nunca mais fumei. Hoje dependo de medicamentos para o coração."
De acordo com a cardiologista Lúcia Salerno, o fumo é mais um fator de risco para quem já tem alguma cardiopatia. Mas o tabagismo também pode provocar problemas cardiovasculares em pessoas saudáveis. "O cigarro – e não só ele, como outros derivados, a exemplo do charuto - tem diversas substâncias em sua composição que afetam o coração. A nicotina é a principal delas. Isso porque ela tem efeito vasoconstritor (quando há a contração dos vasos sanguíneos)", explica a médica. "Essa é a principal causa de infarto entre os jovens, já que os problemas costumam aparecer a partir dos 35, 40 anos", completa.
Segundo a cardiologista, o tabagismo aumenta em cinco vezes as chances de desenvolver doenças cardiovasculares. E até mesmo quem não traga o cigarro pode ser afetado. "O fumante passivo fuma indiretamente um de cada cinco cigarros tragados perto dele. Por isso, vemos casos de pessoas que desenvolvem problemas porque o companheiro ou outras pessoas próximas a ela tinham o hábito de fumar."
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, mais de 140 mil pessoas morreram em decorrência de doenças cardiovasculares no Brasil somente em 2018. Segundo o órgão, elas são a principal causa de mortes no País. Em um período de dez anos, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 3.493.459 óbitos, uma média de uma morte a cada 40 segundos. O número é o dobro das mortes provocadas por todos os tipos de câncer somados, três vezes maior do que o de óbitos por doenças respiratórias e 6,5 vezes maior do que as mortes por infecções, incluindo a AIDS.
Na capital pernambucana, o Dia Mundial Sem Tabaco será marcado por uma ação de conscientização no Mercado do Cordeiro, Zona Oeste da cidade, a partir das 14h. Os chamados "redutores de danos" realizarão abordagem e sensibilização sobre os prejuízos causados à saúde pelo fumo, além de orientações sobre a busca de tratamento na rede pública. Em 2016, Recife era a 15ª capital em número de fumantes do Brasil.
A Secretaria de Saúde conta com grupos antitabagismo distribuídos nos Centros de Atenção Psicossocial para tratamento de álcool e outras drogas (CAPs AD). A demanda é espontânea e as informações podem ser obtidas pelo telefone (81) 3355-2821 ou através do e-mail saudementalad@gmail.com.