Em 35 anos de convivência com a aids, desde 1983 com as primeiras notificações até 1º de outubro de 2018, Pernambuco registrou 26.657 casos de síndrome da imunodeficiência adquirida – 17.339 no público masculino e 9.318 no feminino. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) contabilizou 1.263 ocorrências em 2015, 1.170 em 2016 e 1.001 em 2017, o que representa uma redução de 20,7% no período. De janeiro até 1º de outubro de 2018, há 445 casos computados no Estado.
Os números foram apresentados nessa sexta-feira (30/11) durante o seminário A história da aids em Pernambuco: 30 anos de enfrentamento, promovido pela SES, na sede da instituição, no Bongi, bairro da Zona Oeste do Recife. Médico sanitarista e técnico do Programa Estadual de IST/Aids/HIV, François Figueiroa aponta o avanço da tecnologia do diagnóstico e do tratamento como principais pontos positivos nessas três décadas de luta contra a aids no Brasil.
“A descentralização dos testes e o diagnóstico precoce fazem a diferença”, destaca François Figueiroa, ao historiar o assunto no seminário. Nos anos 1980, diz ele, as pessoas faziam o teste de forma anônima e eram identificadas por um número e pelo apelido que usavam para esconder a identidade. “As primeiras notificações eram feitas por iniciais. Hoje temos o teste rápido em quase todo o Estado, apenas os municípios de Maraial e Tamandaré não implantaram o serviço.”
Trinta anos atrás, continua o sanitarista, o paciente com diagnóstico de aids tomava mais de 20 comprimidos que causavam efeitos colaterais terríveis. “Atualmente, o tratamento é feito com três drogas em dois comprimidos, extremamente eficazes e com poucos efeitos colaterais.” A medicação é fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e paga com dinheiro dos impostos recolhidos dos contribuintes.
Ele recorda que a aids nasceu cercada por uma carga de preconceito enorme porque as primeiras pessoas infectadas eram homossexuais masculinos e prostitutas. “Não progredimos muito, o estigma e o preconceito, algumas vezes, são exacerbados”, lamenta o sanitarista, acrescentando que a situação tende a piorar com a possível proibição do debate sobre gênero e sexualidade nas escolas brasileiras.
Falar sobre gênero e sexualidade nos colégios, esclarece, não significa incentivar relações sexuais precoces. “Discutindo o assunto, quando essa transa acontecer o jovem não estará vulnerável”, declara o médico.
Para Jô Menezes, coordenadora da ong Gestos, “a sociedade civil tem papel fundamental na luta contra a aids no mundo inteiro.” A entidade presta apoio psicológico e jurídico a pessoas que vivem com aids. “Muitas ongs surgiram nos anos 80, poucas ainda funcionam no Estado. As organizações do movimento social não têm recursos para desenvolver ações e chegar aos locais onde o Estado não chega. E aids não é um questão só de saúde”, diz Jô Menezes.