Onze dias após interdição de parte do Hospital Getúlio Vargas (HGV), no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, devido a problemas na infraestrutura, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) prevê que as obras para restauro do prédio só devem ser iniciadas no segundo semestre de 2020. A estimativa foi apresentada nessa terça-feira (10) pelo secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, após audiência realizada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) com representantes da SES e dos conselhos profissionais da área.
“Ficou decidido que a SES informará, até o dia 30 de janeiro do ano que vem, o resultado da dispensa emergencial para contratar uma empresa que realizará o projeto de recuperação estrutural do hospital. Até 26 de maio, deve ser apresentado esse estudo, que fará análise do solo e de outros aspectos estruturais do Getúlio Vargas”, informou a promotora de Justiça Helena Capela. Além disso, ela destacou que a Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe), uma empresa de engenharia e a SES passarão a realizar vistoria e monitoramento quinzenais, ao invés de mensais, nos blocos G1, G2 e G3 do hospital, com encaminhamento de relatório sobre esse trabalho para a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde.
“Sabemos que os funcionários têm trabalhado em condição de estresse. Embora só o G3 esteja interditado, o G1 e o G2 são interligados a ele. Não se constatou risco iminente (de acidente de ordem estrutural), mas todos os três blocos precisam de reparos. Essa vistoria quinzenal ajudará a monitorar melhor os problemas”, acrescentou. Ainda durante a audiência ficou decidido que a SES apresentará, em dez dias, um plano emergencial para possíveis encaminhamentos de pacientes a outras unidades, caso o HGV não tenha condições para fazer atendimentos na urgência, consultas e cirurgias.
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Com o isolamento do G3, após funcionários e pacientes relatarem ter ouvido um estalo no prédio no último dia 29, o HGV passa a contar com menos quatro salas de cirurgia e menos oito consultórios no ambulatório. Ainda assim, o diretor do HGV, Bartolomeu Nascimento, garantiu que os atendimentos acontecem em outras áreas do hospital. “A capacidade está reduzida, mas a emergência funciona. Há também oito salas de cirurgia para procedimentos emergenciais e eletiva. Na última segunda (9), atendemos 380 pacientes (em média, são 400 por dia). Então, o impacto (na assistência) não foi de grande magnitude”, destacou Bartolomeu Nascimento.
Reclamações
Do lado de fora do prédio, parentes, amigos e acompanhantes dos pacientes reclamam que o atendimento está precário. Moradora de Carnaíba, no Sertão de Pernambuco, Vitória Maranhão, 63 anos, tem a impressão de que muitos serviços do HGV estão parados. Ela vem frequentemente ao Recife para acompanhar moradores do município durante consultas e entrada no hospital para internamento. “No dia do estalo (29/11), por exemplo, eu estava com um paciente que tem problema nos dois rins e seria internado. Mas ele voltou para Carnaíba sem atendimento. Queremos que o governo tome uma providência”, disse.
Também ontem a dona de casa Maria Glacilene da Costa, 45, voltou para o município de Brejo da Madre de Deus, no Agreste do Estado, sem conseguir agendar uma cirurgia que há meses tenta marcar. “Tenho um nódulo no ouvido que dói demais e achava que, desta vez, conseguiria me operar. Mas o médico me disse que não há condições de fazer a cirurgia porque o hospital está com as rachaduras. Disse para eu ir ao Imip daqui a uns dias”, lamentou Maria Glacilene.