Desta sexta-feira (29) a domingo (31), Florianópolis sedia o 2º Congresso Brasileiro de Teatro. Será a segunda vez em três anos que artistas, técnicos, produtores, pesquisadores, estudantes de artes cênicas, gestores públicos e demais interessados no tema se reunirão em um evento nacional organizado pela própria classe teatral para discutir estratégias de desenvolvimento do setor.
A expectativa dos organizadores é reunir, no Serviço Social do Comércio (Sesc) de Cacupé (bairro de Florianópolis), em torno de 250 pessoas para debater os modos de organização e meios de sustentabilidade da produção teatral e mais o público que assistirá aos espetáculos. Além dos participantes eleitos para representar seus estados, 140 pessoas de diversas unidades da Federação já haviam se inscrito para participar do evento até o início da tarde de da última quinta-feira (28). Entidades de 13 unidades da Federação também já haviam confirmado presença. Quem quiser assistir aos debates pode se inscrever pelo site do evento até as 23h59 de hoje (sexta) ou, presencialmente, até o meio-dia de sábado (30). As inscrições custam R$ 30, mas os organizadores prometem avaliar a possibilidade de isenção para quem não puder pagar esse valor.
A apresentação do espetáculo Cruz e Souza, com João Batista, às 20h, e uma conferência sobre o histórico de lutas do teatro brasileiro, que será feita as 21h pelo diretor e dramaturgo João das Neves, fundador do Grupo Opinião, darão início à programação, que também contará com a participação de representantes do Ministério da Cultura, da Fundação Nacional de Artes (Funarte), do Conselho Nacional de Gestores Municipais, de cooperativas, associações, federações teatrais e outras entidades. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, foi convidada a participar da mesa de encerramento, as 18h30 de domingo.
O evento está sendo organizado e promovido pela Federação Catarinense de Teatro (Fecate), com o apoio do Sesc e da Universidade do Estado de Santa Catarina. A exemplo do 1º Congresso, realizado em 2011 na cidade de Osasco (SP), as propostas e reivindicações aprovadas ao fim do encontro vão ser reunidas em um documento que será entregue ao Ministério da Cultura.
Na chamada Carta de Osasco, de 2011, os participantes do evento cobraram a elaboração de instrumentos jurídicos que regulassem a ocupação dos prédios públicos ociosos e de imóveis aptos a abrigar artistas; a votação, pelo Congresso Nacional, e implementação, pelo Ministério da Cultura, do Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (ProCultura) e do Programa Prêmio Teatro Brasileiro, previsto no projeto de lei do ProCultura para fomentar a produção e a circulação de espetáculos teatrais e os núcleos artísticos com trabalho continuado. Cópia do documento foi entregue à então ministra da Cultura, Ana de Hollanda.
De acordo com os organizadores deste 2º congresso, uma única iniciativa nacional semelhante tinha sido promovida pela classe teatral antes do evento de Osasco. Foi o Congresso de Arcozelo, realizado em 1979 no Rio de Janeiro. Segundo o ator, pesquisador e presidente do Centro Brasil ITI/Unesco, Ney Piacentini, a dificuldade da classe artística em manter espaços para debater com regularidade suas dificuldades e propostas é fruto de uma desagregação causada, entre outras coisas, pelas agruras com que lidam no dia a dia.
“Há uma espécie de desagregação nacional, estadual e regional que tem várias causas. Por um lado, são tantas as necessidades de cada pequeno ou médio núcleo artístico, de cada produtor, que fica complicado participar ativa e regularmente de redes e de eventos como esse”, disse Piacentini à Agência Brasil.
“Há também o recrudescimento de um modelo que, em todos os setores, acaba por nos impor um individualismo cada vez maior, levando todos a concorrer e disputar uns contra os outros. Daí a importância de eventos como esse congresso, que tenta recuperar movimentos artísticos surgidos logo após o fim da ditadura e reativar o espírito gregário, o debate”, acrescentou o ator, que também já presidiu a Cooperativa Paulista de Teatro e considera que, apesar dos avanços da última década, as políticas públicas culturais continuam muito aquém do que a classe artística e a sociedade demandam. “Nós mesmos recuamos em nossas mobilizações. Se será possível reavivarmos o espírito gregário, serão ocasiões como esta, de Florianópolis, que vão nos dizer”.