Figura seminal da poesia marginal pernambucana, Miró da Muribeca tem passado, nos últimos anos, por um processo de redescobrimento por parte do público. O artista é hoje objeto de fascínio de criadores de várias vertentes, como cinema, literatura e teatro, e inspira releituras de sua obra. É o caso do novo projeto do Grupo Magiluth e de Pedro Escobar, à frente do Edf. Texas, com obras do poeta recitadas em uma série de webvídeos.
“Paquerando”, como eles mesmos gostam de definir, o trabalho de Miró há algum tempo, os realizadores decidiram colocar a mão na massa e dar início a um projeto muito simples: apenas uma câmera parada e os atores do Grupo Magiluth recitando suas obras preferidas de Miró.
“Não planejamos muito, foi um processo muito orgânico. É um projeto que está sendo pensado e repensado à medida em que produzimos, porque ele nasceu de um desejo muito forte de exaltar Miró mesmo. Ele é um frequentador ativo da Boa Vista, uma figura muito importante para o bairro e para o Recife e tanto nós do Texas quanto a galera do Magiluth queríamos muito fazer um projeto com ele”, explica Pedro Escobar.
Ainda sem título, a ideia pode crescer e a vontade dos realizadores é aproximar Miró do projeto. Os primeiros produtos, estrelados por Mário Sérgio Cabral e Erivaldo Oliveira, já estão no ar no canal do Edf.Texas 163, no YouTube, e a perspectiva é lançar um inédito semanalmente. Até agora, já foram gravados 15 vídeos. A escolha das obras é exclusivamente afetiva: cada ator grava aquela que lhe toca mais.
Apesar da informalidade conceitual do projeto, alguns desejos norteiam os artistas. Nas entrevistas, todos ressaltam a importância da Boa Vista – e o recente redescobrimento do bairro por parte dos artistas e da turma mais jovem – e a admiração pelo trabalho de resistência do poeta da Muribeca. “Miró tem um trabalho muito relacionado à cidade, no sentido afetivo. Ele é muito performático e carismático, marca todos que cruzam com ele”, pontua Giordano Castro, do Magiluth.
NOS PALCOS
O coletivo teatral, inclusive, não pretende esgotar nesse projeto seu affair com a obra do poeta. Eles já têm pensado em como levar para os palcos o universo do pernambucano, em projeto que deve ser inscrito no Funcultura deste ano. Mas Giordano ressalta que o projeto, de uma forma ou de outra, vai sair, com ou sem apoio de edital .
“Nossa ideia é mergulhar no mundo de Miró, mas sem obviedades, um pouco como fizemos com Luiz Lua Gonzaga, inspirada em Gonzagão”, conta o ator. “É um processo em que a gente quer que Miró esteja envolvido, que a gente troque ideia. Essa troca com ele é muito importante para nós”, enfatiza.
Tanto para os rapazes do Magiluth quanto para Pedro Escobar, a obra de Miró sofre muito com o ostracismo e é conhecida apenas por um pequeno grupo. Projetos assim, portanto, são importantes para ajudar a posicionar o poeta em um outro patamar.
“Foi muito estranho para a gente ver que em São Paulo, por exemplo, o trabalho de Miró é muito mais cultuado do que em Pernambuco, terra dele. Na Balada Literária, produzida por Marcelino Freire, a quantidade de pessoas entusiasmadas com as poesias dele era impressionante. Está mais do que na hora de ele ocupar o lugar que merece por aqui também”, finaliza Giordano.