Fogo no Altar: Pedro Vilela prepara nova peça com Alexandre Dal Farra

Estreia é prevista para as primeiras semanas de setembro, no Teatro Hermilo
Márcio Bastos
Publicado em 20/08/2017 às 9:00
Estreia é prevista para as primeiras semanas de setembro, no Teatro Hermilo Foto: Luiz Pessoa/Divulgação


A religiosidade é um caráter quase universal das sociedades. Seja através dos elementos da natureza, deuses do Egito Antigo, do Olimpo grego, dos orixás, dos profetas, de Jesus Cristo ou outras incontáveis manifestações de crença no divino, há uma tentativa quase intrínseca da humanidade de dar significado à sua existência e ao que desconhece. Ainda que o pensamento científico tenha assumido um papel importante neste sentido, as religiões continuam a exercer forte influência no mundo contemporâneo, para o bem ou para o mal. Ávido para investigar essa questão, o ator e diretor Pedro Vilela prepara seu novo solo, intitulado Fogo no Altar.

Desde a infância, a religiosidade sempre esteve presente na vida de Pedro Vilela. De início católico, morava ao lado de uma igreja e chegou a ser coroinha. Posteriormente, converteu-se ao protestantismo, mas aos poucos passou a se questionar sobre pontos que discordava, como a mercantilização da fé.
A ideia de criar um espetáculo em torno dessa temática o acompanha desde a época em que integrava o Grupo Magiluth. Chegaram a aprovar o projeto no Funcultura, mas com a saída de Pedro do coletivo, em 2015, decidiu-se que o dinheiro seria devolvido à Fundarpe e que Vilela, agora solo, poderia dar prosseguimento à obra.

Imerso em pesquisas, ele convidou o premiado dramaturgo paulista Alexandre Dal Farra, responsável pelo texto de Mateus, 10, também sobre religião e vencedor do Prêmio Shell, para colaborar com o solo. Juntos, visitaram cultos e passaram a destrinchar sobre o que, de fato, iriam falar.

“Percebemos que, no começo, estávamos caindo na crítica verticalizada. Acho que essa é uma tendência na dramaturgia que vem sendo construída no País, de diálogo entre pares, retroalimentando um discurso. Percebemos, então, que não adianta a gente escarnecer ainda mais essas igrejas porque, no fundo, todo mundo já sabe das contradições. Nos interessava muito mais especular sobre o que faz as pessoas depositarem sua fé nesses espaços. Não estou fazendo espetáculo para dizer que estou certo e eles errados”, reflete.

BUSCA INTERNA

Com estreia prevista para as primeiras semanas de setembro, a obra é construída a partir de uma dramaturgia fragmentada, com cenas que buscam emular algum senso de beleza e sublimação frente à dureza do tema.

“Todo mundo tira sarro do pastor, mas o que a gente tenta discutir é o quanto daquele pastor existe em nós e naquelas pessoas que estão no culto. Quais são as ausências, os sofrimentos, as necessidades de preencher com algo. Não deixa de haver uma relação de escambo porque, no fundo, todo mundo quer alguma coisa, seja dinheiro ou uma bênção, bonança”, pontua.

Responsável pelo festival Trema!, Pedro acredita que o texto é também um acerto de contas consigo.

“Tenho uma relação forte com o cristianismo, mas com muitos dilemas. Talvez, indiretamente, este trabalho seja um questionamento para mim mesmo”, reforça.

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