A feira livre de Iezu Kaeru

Artista estreia nova exposição "Feira da Quinta" nesta quinta (30), na Torre Malakoff. Evento também marca a despedida da mostra "Memória de pedra" e lançamento do catálogo desta
Renato Contente
Publicado em 30/05/2013 às 6:12
Foto: Iezu Kaeru


Seu João, Quinho, Paulo, Tati, Vandinho, Pita, Marrom do Camarão, Marreco, Parêa, Roberto do Caranguejo, Dadá. Para se informar sobre o preço e a localização de algum produto na vastidão da Feira do Beberibe, Zona Norte do Recife, ou na Feira da Quinta, em Garanhuns, esses são alguns dos nomes a quem se pode recorrer. E também para pechinchar, perguntar da família, trocar “bom dia”. Essas estruturas de madeira, lona, afeto e suor – montadas antes do amanhecer e sem hora para serem recolhidas – estão em evidência na instalação multimídia Feira da Quinta, do artista Iezu Kaeru, aberta às 19h desta quinta (30), na Sala Alcir Lacerda, na Torre Malakoff. O texto de abertura é assinado pela fotógrafa e jornalista Ana Lira.

A mostra reúne 50 fotografias em diferentes formatos (do pôster ao imã de geladeira), dispostas em dois ambientes que simulam a dinâmica das feiras livres presentes em todo o País. Além de um som portátil com os ruídos dos mercados, haverá três televisores com videoartes produzidos durante o projeto, entremeados por barracas de lona, frutas e balanças. A abertura conta com performance dos próprios feirantes, coautores da exposição, que se juntam ao público para anunciar seus produtos.

“Vejo esses homens como artistas, na questão poesia falada, na maneira de vender, no ruído da feira. A música espontânea que toma conta do ambiente, um carro tocando brega nos alto-falantes, televisores ligados, um brincando com o outro. Eles ajudaram a selecionar as fotos e a definir o clima da mostra. Busco essa relação para entrar em outros níveis de vivência”, detalha Iezu Kaeru.

A ideia da exposição começou a tomar corpo por acaso, quando o artista, arrebatado pelo que via, flagrou as primeiras horas da manhã de uma Garanhuns coberta por neblina, em 2011. Entre os pinheiros da área (céu ainda escuro), crianças ajudavam seus pais a carregar cabeças de porco de suas estaturas, pedaços de carne, frutas – a maioria descarga de um caminhão que anuncia em letras garrafais: “carga viva”.

A nova fascinação de Iezu continuou no Recife em caminhadas pela Feira de Beberibe e Mercado de São José. Por lá, o pernambucano criou laços com Seu João, Quinho e Parêa, e também com Zeca Boca de Peixe (o moço conhecido por fingir engolir peixes), Sebastião Paixão (chamado por Véio das Carnes) e Marcelo de la Poica. Entre ofertas de coentro, melancia, ervas e uma variedade respeitável de produtos ching-ling – de controle remoto universal a cachorrinho-robô –, Kaeru organiza o retrato de um Recife orgânico, compacto e sem qualquer segurança de permanência.

“Passei a utilizar o termo ‘feiras mortas’ para falar desses espaços. São feiras raras, que praticamente não existem mais ou foram realocadas, descaracterizadas. Esse último é o caso da Feira de Beberibe. Os feirantes se prejudicaram com a mudança, perderam parte da clientela em função dessa nova organização. As fotos tiradas por lá ainda eram da época em que ela ficava numa ponte estreita, perto do Alto do Céu. Ficou o registro”, conclui.

PEDRAS
No dia em que estreia Feira da Quinta, Iezu se despede da instalação multimídia Memória da pedra, exposta nos andares superiores da mesma Torre Malakoff. Na mostra, o artista compartilha seu afeto com as pedras (outra fascinação sua) através de fotos, esculturas, sons e versos de poesia. Na ocasião, será lançado o catálogo da mostra (108 páginas, impresso pela Santa Marta), que conta com textos assinados pelo curador Ricardo Peixoto, Lourenço Mutarelli e Fernando Duarte, além de texto do próprio Iezu. Serão distribuídas 100 unidades do livro. Para quem chegar depois, ainda será possível adquirir a obra, que custará R$ 60 nas livrarias, pela metade do preço. A noite de hoje também conta com pocket show do grupo Poruu, que vai executar a trilha da exposição ao vivo.

Iezu Kaeru
"Feira da Quinta" - Iezu Kaeru
Iezu Kaeru
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