Em Nova Iorque ou Paris; na Suécia, Polônia ou no Canadá, os traços tecnológicos do artista paulista Eduardo Kobra chamam atenção dos transeuntes, seja pelas cores expressivas ou pela criatividade de quem faz de paredes e chãos plataformas de arte. Nome de destaque nacional na chamada “street art”, Kobra, conhecido aqui e fora do Brasil, agora está transformando uma das paredes laterais do prédio da Prefeitura do Recife numa pintura de 77 metros de altura por 16 metros de largura: o Mural Gonzagão, presente que a capital pernambucana ganha nos seus 478 anos.
O trabalho, que deve ficar pronto no próximo dia 23, faz jus à megalomania recifense: será a lateral de prédio com mural mais alta da América Latina e a maior obra, em altura, já feita pelo artista.
Eduardo Kobra começou a sua carreira artística no final da década de 1980, na Zona Sul paulista, estampando nos muros das ruas pichações e grafitagens, inspirado no movimento vanguardista que surgia nos Estados Unidos. Kobra é, no Brasil, um dos frutos desta contracultura que fez do espaço público enormes telas. “Meu trabalho surge por influência do grafite de Nova Iorque das décadas de 1970 e 1980, entre eles nomes como Keith Haring e Jean-Michel Basquiat”, conta ele. “Michel Basquiat, inclusive, foi morador de rua e se tornou o grande nome da street art até hoje. E esses artistas, na década de 1980, conseguiram quebrar barreiras, expondo em galerias, museus”, completa.
Aos 39 anos, o artista já viajou o mundo. Primeiro, começou a criar seus murais em São Paulo. Depois, foi ganhando espaço no restante do País, e não demorou para chegar ao exterior. Não foi um caminho fácil, porém. Mas, com esforço e uma apurada técnica, Eduardo Kobra se tornou uma grande referência nacional. “Eu já fui detido pintando e pichando, em São Paulo. Com o passar do tempo, no entanto, os artistas de rua passaram a ter uma técnica ainda mais apurada e foram convidados para fazer seus trabalhos, inclusive em outros países”, conta ele.
Engajado com uma arte que estimula o sentimento de pertencimento e memória na sociedade, Kobra traduz, nas suas pinturas grandiosas, a identidade das cidades. “Para mim, o principal desse tipo de trabalho é justamente a possibilidade de se levar arte a milhões de pessoas. É uma arte pública, para as pessoas, independente de classe e conhecimento cultural. Então, a gente atinge todo tipo de pessoa. E isso que é o interessante: fazer um trabalho na rua”, afirma o grafiteiro.
Com o projeto Muros da memória, através do qual pinta, adere e sobrepõe cenas e personagens das primeiras décadas do século 20, já criou obras relendo figuras como Albert Einstein, Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá, Abraham Lincoln, Salvador Dali, Frida Kahlo, Andy Warhol, Chico Buarque de Hollanda, Ariano Suassuna e Oscar Niemeyer.